domingo, 10 de junho de 2018

Vinicius Torres Freire: Recaída na crise e nojo de reformas

- Folha de S. Paulo

Quinto ano de sofrimento e Temer empesteiam ideia de reformas na campanha eleitoral

Na média, o desemprego em 2018 não deve ser muito diferente do que se viu em 2017. Algo em torno de 12,5%, dizem chutes informados de boas casas do ramo de previsões. Desemprego alto e persistente é uma draga de salários.

Reajustes mais baixos e inflação um tico mais alta devem jogar pelo ralo mais um tanto do aumento do renda média real de 2018, que não deve chegar à metade do ritmo do ano passado (que havia sido de alta de 2,4%).

O nível de precarização do emprego deve ser igual ou maior. Pesquisas indicam mais receio de piora no mercado de trabalho, desde fevereiro.

Como o povo que leva esta vida vai julgar programas de governo que preguem reformas? Claro que, posta assim, a expressão “reformas” não quer dizer grande coisa.

As mudanças propostas poderiam, por exemplo, até fazer parte de um plano amplo e inteligente de acordo nacional, de uma candidatura que inspirasse esperança e o sentimento de que haverá redistribuição mais justa de perdas.

Mas não temos inteligência, ideias de acordo social e candidaturas que inspirem confiança, pelo menos até agora.

A palavra “reformas” está associada a Michel Temer, politicamente pestilencial. A estagnação econômica deve aumentar a antipatia pela ideia, ao menos no pacote em que vinha sendo apresentada até agora.

Quase dois terços da população haviam declarado repulsa à reforma da Previdência. O apoio ao caminhonaço revelou também o tamanho da raiva contra os aumentos dos combustíveis e à “Petrobras que serve aos interesses do deus mercado”. Difícil acreditar que as raivas diminuam.

Vamos saber do efeito material do caminhonaço e suas sequelas na economia apenas por agosto. Até lá, os indicadores econômicos devem ficar bem confusos, com quedas horrendas em maio, compensações em junho e um saldo a verificar em julho, que não será positivo. Resta saber o tamanho do tombo.

O povo, porém, vai sentir a princípio a onda negativa. Os preços subiram. A inflação de junho deve chegar perto de 1%. É plausível que, no início de julho, ouça notícias de que a inflação voltou a 4% ao ano, a maior desde abril de 2017.

Não quer dizer que a inflação será um problema, no que diz respeito à política monetária, claro, apesar de parte chinfrim do povo do mercado financeiro estar ensandecida a pedir taxas de juros mais altas, uma mistura de oportunismo com ignorância. Nem importa muito a taxa específica de inflação, número que não faz sentido para as pessoas da rua, mas o climão.

Pão, frango e gasolina mais caros fazem sentido, mesmo que a inflação geral esteja baixa e sob controle, por enquanto. Por falar nisso, corre nas redes sociais a piada de que Michel Temer vai conseguir cumprir o programa de Dilma Rousseff, metas que a ex-presidente não atingiu: gasolina e dólar a R$ 5 e popularidade em 5%.

O dólar nas alturas é um termômetro “pop” de crise, mesmo que o cidadão não seja direta e imediatamente afetado pela desvalorização da moeda. Em geral, é o único meio pelo qual o povo percebe que há tumulto financeiro, sintoma sabido de mais crise adiante.

Para piorar, quanto finanças práticas, o crédito nos bancos não vai crescer nada neste ano.

Esses são apenas alguns sinais de degradação socioeconômica. O que importa aqui é lembrar que não se vê candidatura que junte sensatez com capacidade de oferecer esperança a uma população que, na maioria, está em revolta contra o sistema político e que tomou nojo da palavra “reformas”, empesteada de vez por Temer e companhia.

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