Faltam 15 semanas para as eleições gerais. Até agora, no entanto, os 146,6 milhões de eleitores brasileiros não têm a menor ideia do que pensam os candidatos sobre o futuro do país.
Predomina a retórica da rejeição, do negativismo e da desqualificação dos adversários potenciais, como se participassem de concurso para escolha do “menos ruim”. Insistem na alienação da realidade, conflituosa, marcada pela profunda desigualdade social e regida por um estado inflado, disfuncional e em crise fiscal.
Os desequilíbrios nas contas públicas aumentam, com consequências visíveis nas ruas. Estão evidentes nas filas nos hospitais, na baixa qualidade educacional, no alto desemprego, na estagnação dos negócios, no declínio da produtividade e na decadência da infraestrutura.
Na desvalorização do real, que impôs ao Banco Central a oferta imediata de US$ 20 bilhões para conter o dólar em alta, está outro indicador dos custos desse grave impasse político. A pouco mais de 100 dias da eleição, no entanto, candidatos a presidente, governador, senador e deputado seguem sonegando aos eleitores suas propostas de rota para saída da crise e retomada do desenvolvimento.
A fórmula foi usada intensivamente na última década e meia. Desenvolve-se a campanha com slogans fúteis, agressões verbais e, às vésperas do primeiro turno, ideias são esboçadas no rádio e na televisão. Se eleito, as intenções são divulgadas em fascículos. No início do governo, o eleitor percebe que avalizou um programa que, em geral, o decepciona. Abre-se um novo ciclo de crise de confiança.
O risco político tem preço. Ele é inflado na obscuridade da rota de saída da crise. Como não se conhece candidato a favor da inflação e do desemprego ou contra a água encanada e a luz elétrica, é preciso definição política, explícita, e rápida. Por exemplo, sobre o que pretendem fazer acerca do rombo nas contas da Previdência, o financiamento da rede pública de saúde, a recuperação dos padrões educacionais, o redesenho da defesa e da segurança pública — incluído o aparato prisional —, o avanço no saneamento básico, a redefinição do sistema tributário e a redução da burocracia, entre outros aspectos críticos.
Três décadas de redemocratização ensinam que ideias obscuras na campanha garantem uma certeza no horizonte — a da crise a partir do segundo ano de governo. Ou logo no começo mesmo. Num exemplo regional, são necessárias respostas: Qual é o projeto de resgate do Estado do Rio de Janeiro? Como será financiado? Haverá compromisso, critérios e transparência pública de avaliação permanente dos programas e projetos governamentais?
Política é obra coletiva. Sem conquistar o eleitor com propostas nítidas, debatidas, os eleitos para o Executivo e o Legislativo ficam expostos à acusação pública mais comum nos últimos tempos: a do estelionato eleitoral.
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