- O Globo
Pasmem! Em 2018 ainda há quem repita que as mulheres votam com os maridos! Que maridos? Nos 40% dos lares brasileiros chefiados por mulheres, eles são raros e intermitentes. E quem disse que é preciso não ter marido para pensar com a própria cabeça?
A quem lhes perguntou sua prioridade, as mulheres responderam saúde. Trocando em miúdos: gravidez, pré-natal, parto, preventivo de câncer, vacinação para as crianças, remédios para os idosos, toda essa gente de quem cuidam, além de si mesmas. O corpo da mulher é o primeiro meio ambiente que o ser humano conhece. Desdobra-se em outras vidas, o que talvez explique a centralidade do corpo em seus destinos. A saúde para elas é mais do que um item perdido entre outros em qualquer pauta eleitoral.
Sem acesso à saúde publica como sobrevive a família de quem ganha menos de dois salários mínimos? A sombra da morte acompanha os dias dessa parcela da população ignorada pelos candidatos. Não se tocou nesses assuntos nos debates que assistimos até agora. Ninguém perguntou, ninguém respondeu. E, no entanto, é disso que falam em suas conversas na madrugada, esses milhares de mulheres, com filhos no colo, que, Brasil afora, fazem fila nos hospitais.
Perguntadas em quem votariam, disseram que não sabiam ou que votariam em branco ou nulo.
Segundo os analistas das pesquisas de intenção de voto, as mulheres de baixa renda, em torno dos 40, decidirão as eleições caso, superando a descrença e o cansaço, venham a pender para algum candidato. Pânico! Marqueteiros improvisarão ilusionismos que mexam com elas. Inútil. A vida delas é por demais real. E dói.
O distanciamento e a indecisão das mulheres são flagrantes de uma ancestral separação de mundos, masculino e feminino, diferentes inserções na família e na sociedade. Elas pensam o cotidiano, eles pensam os jogos de poder. Não por acaso Bolsonaro não tem prestígio com elas.
Os debates vinham sendo uma conversa entre homens. Na sexta à noite, Marina quebrou o silêncio.
Elas entraram em cena.
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