Por Andrea Jubé | Valor Econômico
SALVADOR - Amigo de Lula há 40 anos, em uma história que remonta à fundação do PT, o ex-governador da Bahia e ex-ministro de dois governos petistas Jaques Wagner explicou ao Valor por que não quis ser o vice na chapa presidencial. A ele caberia no futuro, em caso de impugnação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumir a candidatura principal: "A mim me incomoda ser o substituto imposto por uma farsa."
Para Wagner, se o PT acusa a "interdição artificial" da candidatura do ex-presidente, indicar um substituto legitimaria a trama. Ele acrescenta que caberá a Lula decidir na "undécima hora" sobre a eventual substituição do candidato. "O patrimônio eleitoral é dele", ressalta.
Em caravana eleitoral pela Bahia para conquistar uma vaga ao Senado, Wagner se diz defensor da renovação na política. Ele define a futura chapa de Haddad e Manuela d'Ávila (PCdoB), que assumirá a vice se Lula for impugnado, como a "mais glamour" da eleição.
Questionado sobre o melhor adversário para o PT caso o partido vá ao segundo turno, ele diz que Jair Bolsonaro (PSL) faz "bravatas", e duvida que Geraldo Alckmin (PSDB) chegue lá.
A maioria do PT preferia ele no lugar de Haddad, pela semelhança com Lula: os trejeitos, a voz grossa, o carisma, o estilo conciliador. Já ouviu que é burrice deixar passar a "oportunidade", mas retruca: "Não é a minha."
Durante a caravana eleitoral, que visitou 16 municípios em três dias, Wagner ganhou um chapéu como o de Dominguinhos para se proteger do sol. Logo ouviu de um eleitor: "O senhor é o verdadeiro cangaceiro, acabou com o coronel!"
Uma referência à sua maior proeza eleitoral: vencer o grupo de Antonio Carlos Magalhães (ACM) na eleição para o governo da Bahia em 2006, após 40 anos de reinado do líder baiano.
A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:
• Valor: Por que o senhor não quis ser o vice de Lula?
Jaques Wagner: A mim me incomoda ser o substituto imposto por uma farsa. Por isso, defendi que a gente não deveria ter substituto, pra mim a gente levava a candidatura dele com outro partido. Outra estratégia era ter um vice que pudesse ampliar, por isso eu falei do Josué [Alencar]. A gente diz o tempo todo que [a prisão de Lula] é uma farsa, aí vai botar alguém pra fazer o jogo? Mas o Lula decidiu...
• Valor: Lula e a maior parte do PT não preferiam que fosse o senhor nesse papel?
Wagner: Eu não viajo nessa maionese, sou a favor da renovação, um rapaz de 55 anos me substituiu [Rui Costa, governador da Bahia]. Se é pra fazer uso da Presidência, tem que estar muito disposto. Não tenho coisa pessoal com isso, me perguntam como vou perder essa oportunidade... Não adianta, não é a minha.
• Valor: Quando o PT vai substituir Lula na cabeça de chapa?
Wagner: Se conheço bem o meu amigo Lula, ele vai até a undécima hora. Pra nós, acaba que também acumula [votos], porque ficamos falando o nome dele. Ainda não nos proibiram de falar o nome dele.
• Valor: Mas quando chegar o prazo final,17 de setembro, o que o PT vai fazer?
Wagner: É difícil falar porque o patrimônio eleitoral é dele. Quando fui falar com ele que achava um absurdo o pessoal falar em plano B, ele disse: "Galego, diga ao pessoal lá que eu tenho cinco vezes mais votos que qualquer plano B".
• Valor: O que o senhor achou da escolha de Fernando Haddad para a vaga de vice?
Wagner: Acho que o Haddad, numa hipótese de interdição, cumpre um papel importante. Primeiro do ponto de vista do número: qual o número do Lula? As pessoas irão pra urna votar no número do Lula.
• Valor: O PT está unido em torno do nome de Haddad?
Wagner: Tem reclamações do Haddad? Tem, como tem com outros, eu já sou mais dado, sou de juntar. Mas acho que é importante a jovialidade, a juventude dele. Ele e a Manuela formam disparado a chapa mais glamour.
• Valor: O que o senhor propunha como alternativa ao plano B?
Wagner: Se Lula fosse interditado, o PT não deveria ter substituto. Se a gente está denunciando toda a interdição dele como artificial, não tinha por que a gente legitimar isso indicando um outro nome. Minha tese é que ou se botava um vice de outro partido, e se o Lula fosse interditado, esse vice subiria [pra cabeça de chapa], e a gente botaria um vice do PT. Ou então a gente iria até o final, e se o Lula fosse interditado, a gente apoiaria alguém mais próximo do nosso campo de ideias. Hoje seria o Ciro Gomes, por isso saiu aquela história de que eu seria vice do Ciro.
• Valor: O que o Lula achava dessa tese?
Wagner: Quando fui falar isso com o Lula no dia 7 de junho [em Curitiba], na véspera do lançamento da candidatura do PT [em ato em Contagem, MG], e estávamos eu e o Wellington [Dias, governador do Piauí], ele achava que era muito cedo pra escolher o vice. Não fosse aquela posição - na minha opinião, duvidosa ou questionável do TSE [Tribunal Superior Eleitoral] - de que tinha que inscrever a chapa completa, Lula queria inscrever só o nome dele, sem vice, pra depois montar a chapa.
• Valor: Por que mudaram a estratégia?
Wagner: Quando acharam [a Executiva do PT e os advogados] que a não existência do vice poderia ensejar e facilitar a interdição do Lula, por não ser a chapa completa, então se decidiu colocar um vice, e foi o Haddad. Eu acho que foi correto, porque ele era o coordenador do programa de governo, e a ideia de ter um vice era pra ele verbalizar o programa. Se Lula estivesse em vez de preso, acamado, o PT poderia mandar o vice para os debates, mas na verdade a montagem é pra tirar ele e o PT do ar.
• Valor: O Centrão deixou de ir com o PT porque alega que Lula não transfere votos preso, já que com Dilma Rousseff ele estava solto. O senhor concorda?
Wagner: Acho um raciocínio equivocado, porque mais do que no tempo da Dilma, Lula está cada vez mais vitimizado, próximo a ser beatificado. É o contrário, se ele estivesse solto, mas eventualmente sua candidatura fosse interditada, a sensação de perseguição seria muito menor. Ainda mais depois da liminar ao deputado preso [João Rodrigues, PSD-SC] para disputar. Está contaminando a ideia de perseguição, por isso aumenta a aderência ao nome dele.
• Valor: Então será possível transferir votos?
Wagner: Eu acho que sim, você viu que o Haddad já está com 15% [na pesquisa XP/Ipespe do dia 17]. Todo mundo sabe que é só apertar o 13.
• Valor: Mas o Haddad perdeu em São Paulo em 2016...
Wagner: A gente estava no olho do furacão, o PT tinha 70 prefeituras, ficou com 8, aí você querer que o cara ganhasse na capital do combate ao PT é litigância de má-fé.
• Valor: O senhor acha que a Justiça permitirá que Lula grave para o horário eleitoral?
Wagner: Acho que não, mas nós vamos falar dele o tempo todo. O cenário do meu programa tem a imagem, falo de Lula Livre o tempo todo.
• Valor: Analistas políticos afirmam que o PT estará no segundo turno, com qualquer candidato. Quem o senhor acha que será mais difícil enfrentar: Jair Bolsonaro (PSL) ou Geraldo Alckmin (PSDB) - os dois nomes mais prováveis de chegar lá?
Wagner: Eu não gosto de escolher adversário, acho arrogante, cada um tem uma característica. O Bolsonaro surge como o candidato da contestação, ou da reação, pra uma parte da população. Pra outra, é porque pensam igual a ele, que bandido bom é bandido morto. Acho incrível, ele foi mais de 20 anos deputado, e fez o quê pela segurança pública do Rio de Janeiro? Ele bravata muita coisa, mas não me consta que tenha feito algo. E fica falando que não é obrigado a saber de economia. Tudo bem, não precisa ser um expert, mas não pode ser governador, presidente, sem conhecer nada.
• Valor: E se for Alckmin?
Wagner: Na verdade, estou achando cada vez mais que Alckmin não chega [ao segundo turno]. Repare, o Centrão foi com ele, não foi? Mas e o Centrão do Nordeste, por acaso foi?
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