Presidenciáveis desejaram melhoras a Jair Bolsonaro, esfaqueado em ato de campanha, e pregaram pacificação no ambiente político
Por João Pedroso de Campos | Veja
O terceiro debate entre candidatos à Presidência da República, neste domingo, 9, o primeiro após o atentado a faca contra Jair Bolsonaro (PSL), teve tom morno, poucas trocas de farpas, presidenciáveis cautelosos e pregações contra o radicalismo e o discurso de ódio nas eleições. O encontro foi organizado pela TV Gazeta em parceria com o jornal O Estado de S. Paulo, as rádios Eldorado e Jovem Pan e o Twitter e aconteceu na sede da emissora, em São Paulo.
Participaram do debate Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede). Internado desde a sexta-feira 7 na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Albert Einstein, na capital paulista, Bolsonaro não compareceu, assim como Cabo Daciolo (Patriota). O PT, que tem até a próxima terça-feira, 11, para substituir o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato ao Palácio do Planalto, ficou sem representante no programa.
Quatro dos seis candidatos no debate fizeram menção logo em suas primeiras manifestações ao esfaqueamento sofrido por Bolsonaro em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG) na última quinta-feira, 6. Apenas Dias e Boulos não falaram do caso logo de cara.
Meirelles classificou a agressão como “episódio lamentável”, Alckmin desejou “pronto restabelecimento” ao adversário, Ciro disse querer que o deputado federal “são e salvo” para um “debate cordial, porém sério, dado que eu não penso nada parecido com ele” e Marina Silva lamentou o “momento difícil” no país, ilustrado pelo fato de, no debate, “faltam duas candidaturas, uma por impedimento judicial outra porque está no hospital”.
No segundo bloco, Boulos lamentou “todo tipo de violência” e lembrou, além do atentado contra Bolsonaro, da morte da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL), um crime até agora sem solução, e os tiros contra um ônibus da caravana do ex-presidente Lula no Rio Grande do Sul, ambos em março. “Todas as diferenças que tenho com Bolsonaro vamos resolver na política, não na violência”, disse o candidato do PSOL. “Quem perde com uma campanha marcada por clima de violência é a democracia“, acrescentou.
Mais à frente, Ciro voltou a pedir diálogo e disse que “é preciso substituir a confrontação odienta por combate de ideias”. Já Alckmin pregou, em duas ocasiões, no primeiro bloco e nas considerações finais, um “esforço conciliatório”. “Todas as vezes que o Brasil fez um esforço conciliatório, ele avançou mais”, ponderou.
Ao finalizar sua participação no debate, Marina lembrou que esse era o primeiro debate depois do atentado contra Bolsonaro e disse fazer campanha “oferecendo a outra face”. “Para a face do ódio, o amor. Para a face da violência e do desrespeito, temos que ter tolerância, respeito com as ideias dos outros. Sou mulher, sou mãe de quatro filhos. Vi a violência perto de minha vida desde a adolescência. Tivemos o assassinato da Marielle, atentado ao Lula e atentado contra Bolsonaro. Não vamos chegar a lugar nenhum com um País dividido”, afirmou a candidata.
Já em suas considerações finais, Alvaro Dias, que frequentemente fala em “refundar a República”, declarou que “o ódio cega a inteligência. A raiva e a intolerância alimentam a violência e comprometem o processo democrático”.
Poucos embates, Alckmin na mira
Em meio ao tom cordial e à cautela, houve alguns poucos momentos de troca de farpas no debate, nos quais o tucano Geraldo Alckmin, dono da maior coligação da campanha presidencial, foi o alvo mais acionado.
Henrique Meirelles perguntou a Alckmin, logo na primeira questão do debate, se suas propagandas eleitorais que buscam desconstruir a imagem de Jair Bolsonaro seriam uma “atitude de radicalização”. O tucano, que vinha mirando Bolsonaro para desgastá-lo e teve de repensar a estratégia depois do atentado, respondeu que “em nenhum momento nós pregamos nenhum tipo de violência. Apenas o que mostramos são frases, não ditas por mim”. Um dos programas do ex-governador tucano mostra brigas de Bolsonaro com a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) e uma repórter da Rede TV!.
Já no terceiro bloco do debate, Meirelles voltou a criticar Alckmin e, desta vez, atacou sua gestão à frente do governo de São Paulo. Em relação ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de origem paulista que se espalhou por outros estados, o emedebista afirmou que “o crime organizado é hoje o principal produto de exportação de São Paulo para o resto do país”.
O candidato do PSDB, como de costume, citou a queda no número de homicídios no estado, de cerca de 13.000 em 2001 para cerca de 3.000 em 2017, e que atendeu a pedidos do governo Lula para alocar em presídios paulistas presos de alta periculosidade.
Ciro Gomes também criticou o governo tucano em São Paulo. Questionado por um internauta sobre recursos para a manutenção de museus, de forma a evitar episódios como o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, o pedetista atacou a PEC que impôs um teto aos gastos públicos, proposta e aprovada no governo Michel Temer, destacou que a medida teve apoio do PSDB e lembrou que o Museu do Ipiranga, administrado pela USP, uma universidade estadual, está fechado.
Escolhido pelo próprio Ciro para comentar a resposta ao internauta, Geraldo Alckmin culpou os governos petistas pelo déficit fiscal que levou Temer a propor o teto aos gastos públicos e ressaltou ter firmado parcerias com fundações para a gestão dos museus paulistas.
Fora Alckmin, outro foco de embate, como nos debates anteriores, foi a dupla Henrique Meirelles e Guilherme Boulos. O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) voltou a relacionar o emedebista a banqueiros e o sistema financeiro – Meirelles foi presidente do Bank Boston – e ironizou o slogan da campanha do adversário, “chama o Meirelles”. “Você declarou uma fortuna de quase 400 milhões de reais. Você diz que todo mundo chama o Meirelles. No nosso governo, nós vamos taxar o Meirelles”, provocou Boulos.
Ao responder, o ex-ministro da Fazenda disse que trabalhou “a vida toda” e “sempre” pagou impostos, “ao contrário de quem vive de invadir terra e não contribui com o país”. O psolista ainda comparou um “banqueiro” ser presidente da República a “colocar Maradona para treinar o Brasil em um jogo contra a Argentina”.
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