A economia brasileira não deve ter tranquilidade até outubro, como admitiu o próprio ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, na última quarta-feira, em entrevista ao Valor. O atual comandante da economia colocou a eleição acima da crise dos países emergentes como vetor das recentes turbulências nos mercados, em especial no de câmbio.
Ainda que seja difícil a avaliação sobre quem é ou não o maior responsável pelo atual quadro de volatilidade nas condições financeiras do país, que tem custado caro para o crescimento da economia, não se pode negar que a incerteza eleitoral tem um peso relevante. Talvez menos pelas preferências políticas de grande parte dos integrantes do mercado e mais pela falta de clareza de quase todos os candidatos sobre como pretendem conduzir a inescapável agenda de reformas, em especial a da Previdência.
Além disso, a elevada fragmentação do quadro político brasileiro reforça as preocupações sobre a possibilidade de avanço da necessária reforma previdenciária. Isso sem falar em outros temas urgentes, como a necessidade de simplificação e maior progressividade do sistema tributário brasileiro e a revisão de incentivos fiscais para quem não precisa.
"Eu tenho convicção de que se o Brasil se afastar das reformas será muito difícil o país continuar crescendo. O mercado sabe disso e está olhando para onde vamos", afirmou Guardia.
O comentário do ministro da Fazenda merece ainda mais atenção se lembrarmos que a situação internacional pode se tornar mais complicada para o Brasil e os demais países emergentes nos próximos meses e também em 2019. Os Estados Unidos estão crescendo fortemente e já há quem aponte que o nível de atividade econômica já esteja acima do potencial, exigindo, em algum momento, uma atitude mais agressiva do que a até agora adotada pelo Federal Reserve (Fed) na condução da política monetária.
Como a alta dos juros nos Estados Unidos tem o poder de drenar recursos do resto do mundo para aquela economia, complicando a vida principalmente dos países emergentes, um ambiente no qual permanece a desconfiança sobre a solvência fiscal do Brasil pode agravar sobremaneira as dificuldades domésticas. E é de se esperar que o mercado financeiro, sem ver um consenso mais claro em torno da Previdência e de outras reformas e uma alta dispersão política, demonstre preocupação, que se traduz em juros mais altos, câmbio desvalorizado e bolsa deprimida.
Pode-se argumentar que razões táticas inerentes à disputa eleitoral impedem os candidatos de se comprometerem abertamente a fazer uma reforma da Previdência Social e a anunciar outras medidas necessárias para o reequilíbrio fiscal, mas que, seja quem for o eleito, independente da agremiação, não terá como escapar disso.
O problema desse raciocínio é que ele de certa forma termina por abençoar o chamado "estelionato eleitoral", que a história recente da economia brasileira já mostrou quão caro custou para o país. Além disso, o amadurecimento da democracia brasileira demanda que as questões relevantes sejam tratadas diretamente, sem subterfúgios, dando ao eleitor clareza sobre o que virá quando seu candidato for eleito.
Ainda resta praticamente um mês para o primeiro turno da eleição presidencial e o ideal seria que os candidatos discorressem mais aberta e responsavelmente sobre o que pretendem fazer para equilibrar as contas públicas, em especial para conter o déficit da Previdência Social.
É necessário fortalecer a economia brasileira para navegar em um mundo no qual o dinheiro já não será tão abundante quanto foi na última década. Os países mais equilibrados em sua macroeconomia terão mais chances de serem percebidos como bons destinatários de investimentos, necessários para dar sustentabilidade ao crescimento, cuja aceleração depende também de outras ações.
Como ressaltou o ministro Eduardo Guardia, "o que vai fazer diferença é se vamos arrumar ou não o fiscal". Nesse caso, a incerteza eleitoral pode-se tornar uma certeza positiva caso o sucessor do presidente Michel Temer tiver responsabilidade, ou negativa, caso o próximo chefe da Nação resolva fugir do caminho estreito e difícil da construção do equilíbrio das contas públicas.
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