segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Falta de respostas de PSDB e PT abre caminho a Bolsonaro: Editorial | Valor Econômico

Entre mil e outras razões, o sucesso do discurso autoritário do deputado Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República também é sinal da perda da capacidade do PT e do PSDB de mediar soluções para a crise.

Desde 1994, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, os dois partidos organizam e dão as cartas da política nacional. Parecia que ia dar certo. Fernando Henrique arrumou a casa, e Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a reduzir as desigualdades sociais.

Depois de dois mandatos o sociólogo FHC passou a faixa presidencial para Lula, um operário eleito pela oposição, num episódio de civilidade institucional singular na politica brasileira. Venceu a democracia.

Mas logo os dois partidos se perderam nos desvãos da política. Na oposição, o PSDB se acomodou e virou um partido de cúpula, bem distante da sigla criativa e combativa que ajudou a enterrar o entulho autoritário deixado pelo regime dos generais.

O PT, por seu turno, aos poucos foi se tornando um partido obcecado com a manutenção do poder a qualquer custo.

Quando a Operação Lava-Jato moveu as engrenagens que nivelaram por baixo toda a política brasileira, já era nítida a divisão e a incapacidade dos dois partidos para dialogar, analisar e entender o que se passava abaixo da linha de superfície. Parafraseando a canção, o tempo passou na janela e PT e PSDB, assim como os demais partidos, não viram.

Então no governo e vindo de um período de prosperidade no país, por causa de elevados índices de crescimento econômico, o PT não entendeu os protestos de junho de 2013, o primeiro sinal do desapontamento da sociedade com o funcionamento das instituições, aí incluídos o Executivo, o Congresso e os partidos, para citar alguns.

Em meio a esse ambiente atordoante, assiste-se, ainda, ao aparecimento de um novo e poderoso ator, o Ministério Público Federal.

Os sinais da crise de representação estavam claros, vindos das ruas.

A resposta da presidente Dilma Rousseff, empacotada a toque de caixa em dez medidas, nada dizia à população. O movimento descambou para a violência e a população que aderira a um protesto de estudantes recolheu-se em casa.

Ninguém, até hoje, compreendeu muito bem o que aconteceu em junho de 2013, muito menos os partidos políticos, menos ainda o PSDB e o PT, que foi surpreendido por um movimento surgido em seus arrabaldes.

A eleição de 2014 era a oportunidade de os partidos se reencontrarem com as ruas. Durante o ano inteiro as pesquisas mostravam que dois terços da população queriam mudanças. Ainda assim as legendas que passaram à disputa em segundo turno, PT e PSDB, foram incapazes de responder ao que o eleitorado exigia desde 2013.

O PT tenta esconder, com a ajuda prestimosa de setores da academia, que o impeachment da presidente Dilma Rousseff teve apoio de ampla maioria da população. As manifestações de rua pelo impeachment não foram só maiores que as da "jornada de junho". Foram as maiores da história.

O PSDB perdeu-se na inércia, sem conseguir sequer fazer um projeto inovador para as eleições seguintes, de 2018, tendo sua cúpula à época, especialmente o então presidente da legenda, Aécio Neves, sido atingida pela Lava-Jato.

Longe de um golpe tramado no escurinho dos gabinetes de Brasília, o impeachment de Dilma só foi possível porque milhões de pessoas foram às ruas. O PT perdeu as ruas, das quais se julgava donatário, e uma oportunidade para se refazer como partido.

Acontece que as manifestações populares que tiraram Dilma da Presidência da República mostraram a cara de uma classe média cansada com a política da forma como ela é praticada e a crise econômica, mas também revelaram o embrião autoritário que se manifesta agora, no início da campanha eleitoral, bem mais resistente do que supunham os esclarecidos em todas as áreas.

Não só nos palanques do impeachment, mas ao longo de mandatos parlamentares, circulava Jair Bolsonaro, que hoje parece ser o principal estuário das insatisfações que estão há muito tempo no ar.

A vitória de Bolsonaro, cujo programa se resume a duas ou três ideias mal formuladas, não será uma saída para uma crise profunda, baseada no problema fiscal, assim como a recidiva do candidato do PT em programas irresponsáveis, que levaram o país ao buraco em que se encontra. A polarização entre essas duas forças resultará em uma falsa solução.

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