Candidatura do PT parece ensaiar, mais uma vez, a adesão ao pragmatismo
Na ausência de programas de governo consistentes, candidatos ao Planalto têm apresentado economistas de gabarito e convicções conhecidas como garantia de qualidade em um eventual mandato. Uma exceção importante a essa tendência é —não se sabe até quando—Fernando Haddad (PT).
Além de a plataforma esboçada pela chapa petista carecer de solidez, mantém-se a incógnita quanto a nomes para a equipe na hipótese de vitória. Nesta segunda-feira (17), entretanto, Haddad indicou ao menos quem não quer como seu ministro da Fazenda.
Na sabatina promovida por Folha, UOL e SBT, o presidenciável desautorizou, com clareza inédita, o correligionário Marcio Pochmann, que até então atuava como um porta-voz informal da agenda econômica do partido.
“O Marcio é um professor, candidato a deputado federal e uma pessoa independente do ponto de vista intelectual”, nas palavras de Haddad. “Ele participou [do programa de governo] como 300 outras pessoas participaram.”
Pochmann —cuja contribuição ao ideário da campanha foi subitamente rebaixada a 0,3%— é personagem importante no PT, presidindo hoje a Fundação Perseu Abramo, centro de estudos vinculado à legenda. Está, ademais, entre os mais notórios militantes de teses caras à esquerda nacional.
Em declarações recentes, contestou a urgência de uma reforma da Previdência, com crítica severa ao projeto apresentado pelo governo Michel Temer (MDB); concentrou-se em medidas de estímulo ao consumo e aos investimentos, supostamente capazes de impulsionar a atividade e a arrecadação.
Ao escantear o colega, Haddad indicou uma inflexão rumo ao pragmatismo —e até a usualmente execrada proposta previdenciária de Temer teve méritos reconhecidos.
Nada de novo, aliás, em se tratando de campanhas petistas. Luiz Inácio Lula da Silva caminhou para o centro ideológico de forma bem-sucedida em 2002, com a célebre “Carta ao Povo Brasileiro”.
Já Dilma Rousseff colheu um desastre político ao nomear um ortodoxo para a Fazenda, em evidente reviravolta da agenda propagandeada na ofensiva pela reeleição.
A estratégia para uma eventual nova vitória permanece obscura. Haddad ainda defende despropósitos demagógicos como isentar do Imposto de Renda ganhos até cinco salários mínimos, o que os governos do partido tiveram o bom senso de não fazer mesmo quando o Orçamento era superavitário.
Na situação calamitosa de hoje, ajustes dolorosos se mostram inevitáveis —e dependerão do apoio de siglas já tachadas de golpistas. Obter o respaldo do próprio PT, cujo líder máximo estará empenhado em sair da prisão, não será tarefa menos complexa.
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