Por Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA - Ainda sem conseguir se mostrar um nome viável nas pesquisas de intenção de voto e vendo adversários como Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) aumentarem a dianteira, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, vai nas próximas três semanas antes do primeiro turno reforçar a estratégia traçada por sua campanha.
A ideia é explorar a inexperiência administrativa de Bolsonaro, como forma de atacá-lo, mas não de maneira a afugentar o eleitor sensibilizado pela facada sofrida pelo oponente; insuflar o sentimento de antipetismo; e como resultado das duas anteriores, pregar o voto útil, com o argumento de que o candidato do PSL perderia para o petista no segundo turno.
Apesar de diferentes pesquisas indicarem que no momento ele estaria apenas na quarta colocação - a CNT/MDA divulgada ontem lhe deu apenas 6,1% das intenções -, Alckmin procurou manter a expectativa de que ainda pode engrenar na preferência do eleitor. "Isso não vai acontecer [um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad]. Vamos trabalhar muito para o país ter uma opção melhor e sair dessas aventuras", afirmou o tucano.
"É um grande risco para o Brasil ficar no segundo turno com PT e Bolsonaro. Temos que evitar que isso ocorra", avaliou. "O que acontece é que tem algumas pessoas votando no Bolsonaro para derrotar o PT. Mas esse pode ser o passaporte para o PT voltar ao governo. No segundo turno, Bolsonaro terá grande dificuldade para enfrentar o PT ou qualquer outro. É uma candidatura muito estreita", apontou.
Assim, a ideia, segundo Alckmin e aliados, é manter o sangue frio e acreditar em uma virada às vésperas do primeiro turno. "O que a gente percebe é uma eleição indefinida, meio que por ondas. Nesta, com muito mais razão, vai ser mais ao final a decisão. A situação não é simples, o mundo está preocupado como Brasil. O mundo quer investir, o país tem demanda, mas não pode ter aventura", disse. "Mas, lá na frente caminha para a racionalidade", projetou Alckmin.
O tucano cumpriu ontem uma extensa agenda em Brasília. Assumiu um compromisso de metas para crianças e adolescentes oferecido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), apresentou a correspondentes de veículos internacionais propostas de política externa, encontrou embaixadores dos principais parceiros do Brasil e, no fim da tarde, visitou uma empresa de recicladores de lixo na Cidade Estrutural e uma creche comunitária.
No Unicef, o tucano assinou documento em que assume compromisso com seis metas: Medidas para a superação da pobreza, redução da violência, promoção da educação, garantia de saúde e direito à vida e participação de crianças e adolescentes. Antes de Alckmin, Marina Silva (Rede) e Alvaro Dias (Podemos) já haviam assinado o compromisso.
"É muito preocupante o número de assassinatos no Brasil entre os jovens. A taxa de homicídios entre 15 e 29 anos é de 65,5 por 100 mil habitantes", apontou Alckmin, ressaltando a necessidade de educação e oportunidades. "Quero ser o presidente da primeira infância. Nossa meta é zerar, não ter nenhuma criança fora da pré-escola".
Segundo Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, 6 de cada 10 crianças no país estão em situação de pobreza. Morrem 31 adolescentes por dia no Brasil, "número à frente de qualquer outro lugar", alertou.
Questionado sobre a fala de Bolsonaro, de que haverá fraude caso não vença a disputa pelo Palácio do Planalto, Alckmin provocou: "Mas por que ter fraude? Ele está querendo justificar a derrota antecipada?", atacou. "Eu disputei 10 eleições. Ganhei, perdi e não teve fraude nenhuma. Aliás, o Brasil é exemplo no mundo de avanços na área tecnológica, na área eleitoral".
Novamente mirando Bolsonaro, Alckmin disse, em discurso no centro de reciclagem: "Não vamos colocar crianças em creches, atender as famílias, criar vaga em hospital na bala. Todas as vezes que diminuímos o ódio, a economia do Brasil melhorou, os avanços sociais foram maiores". E concluiu: "Nossa proposta é não deixar ninguém pra trás. Não podemos errar de novo".
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