- Folha de S. Paulo
Nas urnas, eleitor pode ser generoso, tribalista, vingativo e até racional
Vai se desenhando um quadro em que o Brasil poderá ter de escolher entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).
O primeiro já defendeu a tortura, o fuzilamento de adversários e apresenta um programa econômico ortodoxo, mas inexequível. Pior, a agenda oportunisticamente abraçada pelo candidato contraria todo seu histórico de 27 anos de votações como deputado federal.
Já o segundo representa um partido cujas políticas econômicas levaram o Brasil a uma das piores recessões da história e cujo programa de governo não traz nenhum indício de que a legenda tenha aprendido com seus erros.
Como chegamos a esse ponto? Bryan Caplan, autor de “The Myth of the Rational Voter” (o mito do eleitor racional), tem uma explicação. Embora adoremos classificar aqueles que não partilham de nossas preferências políticas como seres egoístas que votam de olho no próprio bolso, ignorando o bem comum, essa não é uma boa descrição.
Como o peso de um sufrágio individual tende a zero num pleito com milhões de eleitores, nem o mais insensato dos cidadãos acha que é o seu voto que vai definir a política econômica. Já de saída, sustenta Caplan, não faria sentido fazer escolhas tendo em vista interesses materiais próprios.
Ocorre que a virtual irrelevância de cada cédula singular também torna quase nulo o custo individual de votar “errado”. O seu sufrágio, por mais maluco que seja, não basta para prejudicá-lo. Com isso, a urna se torna o lugar onde o eleitor dá rédeas aos seus instintos mais básicos. Ele pode ser generoso, tribalista, vingativo e até racional. O sujeito vota de forma que o faça sentir-se bem consigo mesmo, sem pesar consequências. Mas, como ocorre com a poluição, o fato de o custo de erros individuais ser irrisório não significa que o custo coletivo também o seja.
O problema da democracia, diz Caplan, é que ela dá aos eleitores exatamente aquilo que eles querem.
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