Os eleitores começaram a afastar-se dos candidatos de centro em direção aos extremos, revelam as pesquisas, em um movimento que pode ser definitivo. Jair Bolsonaro, do PSL, subiu mais um pouco, segundo o Ibope, e continua na dianteira, com 28%. O candidato petista, Fernando Haddad, em menos de duas semanas passou de 5% para 19% e deixou a boa distância o pelotão embolado do segundo lugar, onde se encontravam 4 candidatos. Desses, apenas Ciro Gomes (PDT) manteve suas preferências, com 11%. Os demais perderam espaço, com destaque para a candidata da Rede, Marina Silva, que despencou de 12% para 6% em duas semanas. O postulante com maior tempo de propaganda na TV, o tucano Geraldo Alckmin, caiu dois pontos, para 7%. João Amoêdo (Novo), Álvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB), mesmo com baixos índices, também recuaram.
Desde o início da campanha oficial na TV a porcentagem dos que declararam que votariam nulo ou em branco reduziu-se a menos da metade, de 29% para 14% (Ibope), e começam a definir a disputa, a favor da polarização. Bolsonaro, que perdia para quase todos os possíveis concorrentes no segundo turno, agora está em empate técnico com eles Batia apenas Haddad e agora está empatado com ele, com 40%.
A polarização entre Bolsonaro e Haddad acentua a singularidade dessa eleição - são os dois candidatos com maior índice de rejeição. Já se sabia que os radicalismos se nutriam mutuamente e que o petismo e Bolsonaro eram entre si inimigos feitos um para o outro. As pesquisas estão confirmando esse mútuo desejo.
Com um eleitorado fiel que passou da casa dos 20% das preferências, Bolsonaro ao que tudo indica deverá chegar ao segundo turno mesmo sem fazer campanha. Seu principal rival, será submetido ao duro escrutínio de debates, enquanto que o candidato do PSL só cometerá erros se quiser. E ele quer: prossegue, do leito do hospital, a fazer ataques à democracia mesmo liderando as pesquisas. Autoeleito, julga que a fraude nas urnas lhe surrupiará a vitória certa - e as pesquisas, desonestas, o farão a conta-gotas.
Bolsonaro não preza a democracia, mesmo participando de uma eleição, e as declarações dele e seus companheiros de campanha sugerem que o regime democrático entrou na zona de risco neste pleito. As afirmações de seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, de que um governo saído das urnas pode dar um "autogolpe" e convocar as Forças Armadas não é leviana, nem deve ser encarada como mais um exotismo. A chapa do PSL pensa dessa forma.
A disputa entre Bolsonaro e o PT, em um segundo turno que está sendo antecipado, é o pior que poderia ocorrer em um momento de crises como o atual. A crise do modelo político da redemocratização, com a explosão de partidos que nada representam, culmina em descrédito generalizado da política. Na economia, esgotou-se o espaço para tentar resolver os problemas do país aumentando impostos e gastos públicos, que criou um gigantesco desarranjo fiscal.
O PT tira proveito de uma crise econômica que ele próprio produziu, durante o mandato e meio de Dilma Rousseff. O programa econômico de Haddad e as afirmações dos líderes da legenda, revelam que o partido nada aprendeu, mesmo depois de levar o país à maior recessão da história recente, e que quer repetir a fórmula desastrosa. Para o PT, sem estímulos públicos não haverá crédito, crescimento nem aumento da arrecadação. O fato de o Estado estar quebrado é, para a legenda, um detalhe desimportante.
O PT jamais fez autocrítica da corrupção da qual se beneficiaram vários de seus dirigentes, boa parte deles condenados pela Justiça. À pantomima da denúncia do "golpe" saiu agora de braços dados com golpistas em vários Estados - a perspectiva de poder está mais uma vez acima de supostos princípios.
Bolsonaro, um deputado sem brilho, contratou o liberal Paulo Guedes para cuidar da política econômica. Além de sua ignorância sobre o assunto, Bolsonaro não parece ter o menor interesse nele e pelo seu passado, quando tomou alguma posição, estava no lado oposto àquele para o qual o quer levar Guedes. A falta de uma coalizão tornará impossível a aprovação de uma agenda radical no Congresso, ainda mais após uma eleição em que a sociedade sairá dividida ao meio. Despreparado e intempestivo, o ex-capitão, se vencer, pode tornar o país ingovernável. Já Haddad, se colocar em prática o programa que pôs no papel, tornará o país insolvente.
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