- Folha de S. Paulo
O PSDB assiste ao drama de seu escolhido no estilo cada um por si e Deus por todos
Não leva o meu apoio, não leva o meu voto, não leva o voto dos amazonenses". O autor da frase, Arthur Virgílio (PSDB), prefeito de Manaus, dirigia-se ao correligionário Geraldo Alckmin, candidato dos tucanos à Presidência. É sabido que os dois não se bicam, mas um chute desses na canela de um político que vive momento delicado na disputa diz mais sobre o que se tornou o PSDB do que sobre Alckmin ou o próprio Virgílio.
Ala significativa do partido parece ainda não ter entendido que a eventual derrocada de seu candidato ao Planalto nesta eleição não marcará apenas o ocaso político de um dos principais nomes do tucanato, mas o da própria sigla, que caiu em desgraça depois de se entrincheirar numa batalha sobre ética com o PT sem avaliar a espessura de seu telhado de vidro.
Alckmin vive o inferno de qualquer candidato. Em baixa nas pesquisas, é alvo da desconfiança de aliados que dão suporte à sua candidatura e tornou-se persona non grata para companheiros que também disputam a eleição.
No Nordeste, políticos da coligação tucana distribuem santinhos pedindo votos para o 13, número do PT.
Marqueteiros de candidatos a governador pelo PSDB começam a orientar seus clientes a afastar qualquer menção a ele da publicidade eleitoral.
Mesmo em São Paulo, estado que comandou por quatro vezes, o presidenciável iniciou a disputa com dois aliados na corrida pelo governo e agora não encontra nenhum disposto a defendê-lo na TV.
Estava escrito que o tucano enfrentaria alguma dificuldade nesta eleição, marcada desde o início pelo tom beligerante, de acerto de contas. A começar pela fala, monocórdia, repetitiva e comedida, ele não parecia se encaixar no cenário dominado pela histeria.
Jamais, porém, seus aliados imaginaram que estariam, a menos de 20 dias do pleito, vendo o político patinar nas pesquisas abaixo dos dois dígitos de intenções de voto.
Forjado na política tradicional, cria de Mário Covas, Alckmin corre o risco de replicar o desempenho do padrinho na eleição de 1989 —repetidamente comparada à deste insano 2018. Naquele ano, Fernando Collor e Lula polarizaram a disputa. Covas terminou em quarto lugar, com 11% dos votos.
Derrotado, decidiu subir no palanque petista contra Collor, que considerava um mal maior. O resto é história.
Nos bastidores, dirigentes de partidos que apoiam Alckmin já começam a discutir o que vão fazer num eventual segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). O presidenciável ainda não jogou a toalha. Luta pelo que hoje parece um milagre —não há na história recente registro de recuperação que lhe dê margem a esperanças.
O PSDB assiste ao drama de seu escolhido no melhor estilo cada um por si e Deus por todos. Parece não entender que com Alckmin vão-se a posição e o eleitorado que a sigla conquistou desde a sua fundação. Parece não entender que vai deixar de ser a linha mestra de um setor importante da política. Que não mais será a referência do chamado "campo azul", do eleitorado refratário ao PT.
Uma eventual derrota de Alckmin marcará o anoitecer do partido que ocupou por duas vezes a Presidência, governou por mais de 20 anos o maior estado do país, que era referência para uma ala da academia, de economistas e de idealizadores de programas sociais.
Se vier, a ruína do tucano evidenciará uma legenda que não cultivou novos líderes. Que viu José Serra (PSDB-SP) e Aécio Neves (PSDB-MG) serem abatidos pela Lava Jato, Alckmin sofrer avarias e sangrar em praça pública e cujo último nome que despontou como promissor, João Doria, orgulha-se em dizer que é empresário, gestor, lobista, qualquer coisa, menos político.
Boa sorte ao que restar do tucanato.
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