Tucano estava resistindo em elevar o tom, embora já tivesse sido aconselhado
Cristiane Jungblut | O Globo
BRASÍLIA - "Temos que elevar o tom ao nível máximo": esse foi o recado dado pelos presidentes dos partidos do centrão ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, e que o tucano começou a cumprir já nesta quarta-feira. Alckmin gravou um programa eleitoral com pesadas críticas ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que vai ao ar nesta quinta-feira, segundo integrantes da campanha do PSDB que acompanharam a gravação. O ataque também será direcionado ao candidato do PT, Fernando Haddad.
A avaliação do grupo é que Alckmin tem que retirar Bolsonaro do segundo turno, se colocando como alternativa responsável para evitar a volta do PT ao poder. Outra decisão será focar os próximos dias de campanha em São Paulo, onde o tucano foi quatro vezes governador e tem condições de recuperar votos mais facilmente.
Os tucanos dizem que as pesquisas internas nunca mostraram Alckmin abaixo de 9%, e vinham registrando uma tendência de queda de Bolsonaro. Os números dos institutos causaram perplexidade.
Alckmin vinha resistindo em elevar o tom, embora viesse sendo aconselhado a adotar esta postura há dias, em especial pelo presidente do DEM e coordenador da campanha em nome do centrão, o prefeito de Salvador, ACM Neto. Mas Alckmin e outros tucanos se mantiveram naquele pensamento de que um maior tempo de televisão daria resultado e que, ao final, a onda em seu favor surgiria. O próprio Alckmin externou esse discurso em agenda de campanha na última segunda-feira, em Brasília, falando da "onda na reta final". Mas na terça-feira veio a realidade: os partidos reunidos em São Paulo lhe colocaram como última alternativa radicalizar.
Dentro do PSDB, há uma perplexidade com o enfraquecimento da candidatura. Tucanos experientes acreditavam piamente neste discurso de Alckmin de que sua estratégia mais ponderada daria resultado ao final, como ocorreu na negociação com os partidos do chamado centrão. Na prática, porém, nem a escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) teve o resultado esperado no Sul do país, onde Bolsonaro lidera com folga.
Do lado do PSDB, a decisão foi jogar em terreno seguro: o tucano terá agendas de campanha até domingo em São Paulo, na capital e interior.
Do lado do centrão, ACM Neto tem sido o mais fiel colaborador de Alckmin.
— Não podemos caminhar para uma eleição pautada por dois episódios: a prisão de Lula e a facada em Bolsonaro. Agora, temos o dever de mostrar tudo: as fragilidades de Bolsonaro e os riscos da voltar ao poder do PT. Dizer que a eleição acabou não é verdade — disse ACM Neto.
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