Lula fez o mesmo com êxito, mas o desfecho da manobra, com a participação de Dilma, foi trágico
A previsível corrida ao centro de candidatos à esquerda começou quando Ciro Gomes (PDT) tentou atrair o centrão, mas foi rejeitado em troca de Alckmin. Agora, é a vez de Fernando Haddad (PT), ungido por Lula, que tenta repetir a manobra bem-sucedida executada pelo padrinho na campanha de 2002, quando o chefe do PT afinal venceu as eleições presidenciais, depois de três tentativas fracassadas (89, 94, 98).
Confirmava-se a experiência do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que provara serem necessárias alianças com a centro-direita para governar. O PT seguiu a cartilha, venceu eleições, mas tudo terminou em escândalos, cadeia e impeachment. Não por culpa do instrumento das coalizões, mas por desvio ideológico (“os fins justificam os meios”) e falta de ética mesmo.
A vantagem do eleitorado e do próprio Haddad em 2018 é que ambos conhecem o desfecho da guinada ao centro de Lula. O ex-presidente, com as derrotas sucessivas—para FH, em 94 e 98, no primeiro turno – entendeu o recado da sociedade. O PT fizera um congresso em Olinda, um ano antes da eleição, em 2001, onde confirmara a agenda radical de sempre.
Caminharia para a quarta derrota. Lula, então, deu o cavalo de pau no transatlântico e, em meados de 2002, lançou a Carta ao Povo Brasileiro, garantindo cumprir contratos (leia-se, nada de calote nas dívidas interna e externa, uma obsessão da esquerda; e respeito ao mercado). Deu certo.
Haddad já começou o cavalo de pau. Na sabatina da “Folha”, UOL e SBT confirmou o afastamento da sua campanha do economista Marcio Pochmann, símbolo do pensamento econômico petista de raiz. Pochmann é arauto, entre outras heresias, da ideia de que não há urgência para a reforma da Previdência. Sabe-se no que este tipo de tese resulta. Haddad foi adiante e admitiu que parte da proposta da reforma previdenciária de Temer “tem coisas úteis”. Principalmente a reforma do sistema dos servidores. O resto, disse, iria para “uma mesa de discussões”. Estas já foram esgotadas, mas este é outro assunto.
Lula, inicialmente, cumpriu a promessa e, para reforçar o compromisso, permitiu que Palocci, no Ministério da Fazenda, seguisse uma política de ajuste “neoliberal”, ajudado, no Banco Central, por ninguém menos que um tucano, Henrique Meirelles, e, mais do que isso, ex-presidente mundial do BankBoston, um dos braços do “capital financeiro monopolista internacional”.
Funcionou. A inflação, que disparara devido à alta do dólar causada pelo temor a Lula, retrocedeu, e a economia voltou a crescer. Por isso, também já se especula sobre o nome de um“neoliberal” para a Fazenda de Haddad. Lula sabe em detalhes esta história.
Mas conspira contra PT e Fernando Haddad o desfecho daquela apenas aparente — viu-se depois — conversão do partido às boas práticas de política econômica. A dúvida é se aprenderam a lição ou poderão cometer outro estelionato eleitoral.
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