- O Estado de S.Paulo
Uma campanha eleitoral cujo nível já era o mais baixo da redemocratização chegou ao fundo do poço nesta terça-feira, 23, com um capítulo deplorável da disputa pelo governo de São Paulo.
João Doria Jr. teve de gravar um depoimento ao lado da mulher, Bia Doria, em que nega ser o homem que aparece em um vídeo de sexo grupal que circulou freneticamente pelo WhatsApp, viralizou nas redes sociais e foi objeto de comentários até de um vereador cujo mandato já foi cassado pela Justiça Eleitoral, do PSB do governador Márcio França.
O tema foi parar no debate entre os candidatos no SBT e pode se transformar em ação judicial.
Até terça-feira, parecia que ser relegada a um apêndice e uma caricatura da disputa nacional entre petismo e antipetismo era o que de mais deprimente podia acontecer na eleição para o governo do Estado mais rico e populoso da Federação. Mas os políticos trataram de cavar um pouco mais o túnel que os leva para o inferno – como se o recado das urnas já não fosse suficientemente eloquente de que o eleitorado está enojado das velhas práticas.
A política paulista já foi marcada no passado por confrontos acirrados, como os realizados entre Mário Covas e Paulo Maluf, mas nunca de natureza tão vil. A possibilidade de que se tenha recorrido a uma montagem para comprometer Doria tornaria o que já é um expediente injustificável num crime ainda mais grave.
Os dois postulantes ao Palácio dos Bandeirantes não discutiram a sério até agora as principais demandas do Estado. Num momento em que o eixo de poder no Brasil é deslocado, São Paulo abdica de protagonismo político ao deixar que o debate eleitoral paulista transite entre o papo de boteco e o de bordel.
Nem Doria, que deixou a Prefeitura depois de 15 meses de mandato, nem França, que desde que assumiu o lugar de Geraldo Alckmin se empenha única e exclusivamente em se reeleger, demonstram ter um projeto de desenvolvimento para São Paulo.
Até aqui vinham se dedicando a uma briga entre quem é de esquerda e de direita. Com o vídeo, aliados de França resolveram apelar ao tudo ou nada contra o tucano. O uso de baixaria, em política, pode ter efeito contrário ao pretendido. Basta lembrar do slogan “é casado, tem filhos?” que a campanha do PT lançou contra Gilberto Kassab em 2008 e que ajudou a reeleger o então prefeito.
PT e PDT devem disputar o comando da oposição
Passada a eleição, o PT deve viver dias ainda mais turbulentos. A se confirmar a vitória de Jair Bolsonaro apontada pelas pesquisas, o partido tentará evocar sua condição de maior bancada na Câmara para capitanear a oposição, mas não terá uma adesão imediata de partidos como PDT – fortalecido com a votação considerável de Ciro Gomes e liderado por seu irmão, Cid, no Senado – e PSB.
As duas siglas pretendem sair na frente do PT no contraponto às pautas do bolsonarismo nas áreas econômica e social. Avaliam que os petistas estarão ocupados disputando o controle da própria legenda e discutindo ad eternum o futuro judicial de Lula e deixarão um vácuo programático a ser ocupado, o que pavimentará o caminho para as eleições municipais de 2020 e as gerais de 2022. A ideia é atrair desde o início o grupo integrado por PPS, Rede e PV para essa nova esquerda antibolsonarista – cuja distância do PT é considerada condição para ter aderência na sociedade.
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