- Folha de S. Paulo
Além de tumulto na eleição, economia incógnita e política difícil devem balançar resto de 2018
Para quem esperava calmaria nestes dias finais de campanha, a quinta-feira foi agitada. Mais que isso, houve outras notícias de que a transição para o próximo governo, qualquer que seja, tende a ser acidentada.
A reportagem desta Folha que trata de suspeitas de financiamento ilegal da campanha de Jair Bolsonaro (PSL) indica que não haverá modorra, com restos de confusão a pagar e apagar mesmo depois de encerrada a eleição.
Haverá mais, porém, mesmo em caso de vitória do preferido das elites econômicas, o candidato do PSL.
Haverá uma nomeação crucial, o novo comando do Banco Central. Haverá a negociação com o Congresso e a eleição do novo comando da Câmara, que já estão quentes. Terá de haver, enfim, a divulgação do que seria o programa para a economia, ainda uma incógnita para especialistas, que dirá para a massa do eleitorado. Muita gente votou na esperança vã de que promessas de fim da corrupção e de "quebrar o sistema" resolvam a crise econômica que já dura meia década.
Caso as instituições do sistema de Justiça se encarreguem de averiguar o que se passa na escuridão do WhatsApp, pode haver sequelas, no mínimo uma indisposição de um presidente com procuradores e juízes. Convém lembrar que o próximo governante nomeará ministros do Supremo e o procurador-geral da República.
A disputa pelo crucial comando da Câmara dos Deputados já começou, por ora dividindo parte dos bolsonaristas e o núcleo do centrão, com o DEM à frente, um grupo de partidos que conta com 142 deputados. Dizem que não vão aceitar atropelamento do bolsonarismo eventualmente triunfante. Como parece óbvio, estão a dizer que querem manter Rodrigo Maia (DEM) à frente da Câmara a fim de negociar um acordo, o que causaria repulsa a Bolsonaro.
Denúncias e política não abalaram os negociantes de dinheiro, investidores e credores do governo, o dito mercado. No entanto, houve um remelexo com a hipótese de que Ilan Goldfajn vá deixar a presidência do Banco Central, divulgada pelo serviço de notícias financeiras Bloomberg.
Não deve ser tão difícil encontrar na finança um nome em tese competente para comandar o BC, embora o prestígio de Goldfajn seja grande na praça: sua permanência seria um seguro para o início de qualquer governo, menos incerteza. Um novo nome precisaria mostrar a que veio, o que demora um tanto. Se o resto do governo da economia e a situação financeira mundial estiverem em paz, haverá tempo de sobra para isso. Estarão?
O governo eleito terá de, enfim, explicitar seus planos econômicos, o que pode ser traumático para um eleitorado que não se ocupou muito do assunto. Frustrações ou espantos podem ter consequências funestas e impactos na confiança econômica. Não é destino, mas é um problema delicado.
Os vazamentos da campanha de Bolsonaro continuam a causar ruído. Foi assim no caso de bravatas ambientais, que assustaram os setores sensatos do agronegócio. Foi assim no caso da China, que causou má impressão aqui e lá fora, para quem espera que o país atraia capital estrangeiro para negócios de infraestrutura. Não parou por aí.
Gente do governo argentino ficou mal impressionada com as declarações imprudentes sobre abertura unilateral do comércio exterior brasileiro, em tese uma boa notícia, mas que precisa ser combinada com um sócio do Mercosul e grande parceiro comercial do Brasil.
À beira do fim da eleição, ninguém conhece os passos dessa estrada.
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