Na sua primeira reunião após a eleição do deputado Jair Bolsonaro (PSL) para a presidência da República, os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central concluíram que os riscos para o cumprimento das metas de inflação diminuíram, mas ainda não o suficiente para baixar a guarda sobre uma eventual alta de juros nas suas próximas reuniões.
Faz sentido uma dose de cautela. A equipe de Bolsonaro, chefiada pelo economista Paulo Guedes, demonstrou um compromisso mais forte do que os adversários com o ajuste fiscal e reformas que ampliam a produtividade da economia. Saíram derrotadas plataformas eleitorais que propunham retrocessos, como a extinção do teto de gastos públicos e propostas de equacionar o déficit público com medidas de expansão fiscal - ou seja, com mais gastos.
Resta saber, porém, se o novo governo vai mesmo entregar o prometido. Isso depende da capacidade das áreas técnicas formularem propostas exequíveis. Uma dúvida recorrente nos mercados é se o governo Bolsonaro conseguirá mobilizar uma base parlamentar para apoiar medidas impopulares, sobretudo uma ampla reforma da Previdência Social.
Apesar de um nível ainda grande de incertezas, os riscos sem dúvidas diminuíram. Isso já se reflete nas projeções de inflação apresentadas pelo Copom em comunicado de reunião da semana passada, que manteve os juros básicos da economia em 6,5% ao ano pela quinta vez.
Em setembro, antes das eleições, o Copom havia apresentado dois cenários bem distintos para a inflação. Em um deles, com a taxa de câmbio em R$ 3,70, a inflação ficaria dentro das metas até pelo menos 2020, o que eliminava a pressa em retirar os estímulos monetários da economia. Em um outro cenário, como uma taxa de câmbio em R$ 4,15, o Copom seria obrigado a começar a subir os juros em maio de 2019. Naquela ocasião, porém, o Copom alertou que uma eventual piora no cenário, que levasse a taxa de câmbio a mais de R$ 4,15, iria fazê-lo apertar as condições financeiras mais cedo.
Na semana passada, quando a taxa de câmbio oscilava em R$ 3,70, todas as projeções apresentadas pelo Banco Central estavam do lado mais favorável, o que em tese permitiria um aperto de juros depois de maio de 2019. Esses exercícios numéricos refletem, em boa medida, os impactos favoráveis que a eleição de Bolsonaro teve nos mercados, derrubando prêmios de risco e provocando a apreciação da taxa de câmbio.
Apesar da evidente melhora, o Copom achou por bem manter o aviso de que o estímulo monetário "começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ou seu balanço de riscos apresentem piora". Esse é um reconhecimento do Copom de que, caso o governo não seja capaz de entregar as reformas prometidas, poderá haver uma reviravolta nos mercados, dificultado o cumprimento das metas de inflação.
O andamento das reformas no governo Bolsonaro vai determinar não apenas a trajetória dos juros básicos no curto prazo, mas também o patamar que a taxa Selic estará nos próximos anos. Atualmente, o Copom vem mantendo a Selic abaixo da chamada taxa neutra de juros para estimular a economia, que opera com alta capacidade ociosa, e levar a inflação para as metas.
Garantidos esses dois objetivos, os juros terão que se igualar à taxa neutra. Há dois caminhos possíveis: um deles é o Copom subir a Selic gradualmente para a taxa neutra. Essa é a aposta dominante do mercado financeiro, que espera que os juros aumentem a partir de maio de 2019 em direção a 8% ao ano. Os analistas econômicos, porém, já começam a projetar um aperto mais tardio, depois do comunicado do Copom da semana passada.
Outra hipótese é a taxa neutra cair em direção à taxa Selic. Nessas condições, a alta de juros pode ser mais branda ou até mesmo não ocorrer. A queda da taxa neutra de juros depende de medidas que reduzam prêmios de risco, sobretudo um sólido ajuste fiscal e reformas que aumentem a produtividade.
O período de tempo em que os juros vão ficar baixos depende também da evolução do cenário internacional. O Brasil poderá ser afetado por uma eventual desaceleração mais forte da economia chinesa ou por um aperto monetário nos Estados Unidos mais rápido ou intenso. De qualquer forma, nesse caso, as reformas nos deixariam mais forte para absorver choques externos.
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