- O Globo
Tucanos estão presos a uma contradição, pois não conseguem se desvencilhar de uma aliança carcomida com o PMDB
A primeira-dama Ruth Cardoso, a propósito do acordo político fechado por seu marido Fernando Henrique com o Partido da Frente Liberal, hoje Democratas (DEM), disse uma frase que ficou célebre: “O meu PFL não é o mesmo do Antonio Carlos”, referindo-se ao então governador da Bahia.
Tantos anos depois, a mesma frase está sendo dita a voz pequena por renomados tucanos, atualizada: “O PSDB do Dória não é o meu PSDB”. O inevitável está acontecendo. A partir da eleição de João Dória para o governo de São Paulo, ele está avançando sobre a direção nacional do partido, cuja presidência o ex-governador de São Paulo e candidato derrotado à presidência da República Geraldo Alckmin vai deixar em maio.
Já está tudo certo para que o deputado Bruno Araujo, aliado do senador e deputado federal eleito Aécio Neves, assuma o comando, o que confirma a permanência do partido no apoio do governo Temer para, em seguida, bandear-se para o governo Bolsonaro.
“Não com o meu apoio”, já disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em diversas conversas reservadas, aguardando o momento certo para abrir oficialmente a dissidência, que será o ponto de partida para a formação de outro, reunindo dissidentes de várias legendas.
O PMDB é um fator decisivo na vida do PSDB, desde sua fundação em junho de 1988, fruto justamente de uma dissidência do MDB, à época dominado por Orestes Quércia, governador de São Paulo, principal expoente da ala fisiológica do partido, até o momento da implosão atual, que tem justamente no fisiologismo peemedebista sua razão mais explícita.
Os tucanos hoje se encontram presos a uma contradição de sua própria história, pois não conseguem se desvencilhar de uma aliança carcomida com o PMDB, envolvido, como quase sempre, em acusações de corrupção e fisiologismo político, depois de ter vivido uma história de resistência e luta contra a ditadura em que políticos como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves davam o tom do partido.
O PSDB perdeu o rumo da História perdendo o “timing” de sair do governo quando foi revelado o áudio da conversa entre o presidente Temer e o empresário Joesley Batista, preso novamente ontem. A manutenção do apoio a Temer deu-se através do próprio Bruno Araujo, que deixou o cobiçado cargo de ministro das Cidades não em protesto, mas para abrir vaga para uma recomposição ministerial que o ajudasse a se livrar de um processo na Câmara.
Tudo sob a orientação do ainda senador Aécio Neves. O senador Tasso Jereissatti, que à época defendia assumir uma posição mais social-democrata, substituiu interinamente Aécio Neves na presidência, mas nunca teve o poder de fato, que continuou com Aécio. Hoje, Jereissatti está tateando em busca de uma saída, que pode vir a ser a mesma de Fernando Henrique e de vários outros políticos incomodados em seus partidos.
Como o deputado federal eleito pelo PSB, Alessandro Molon, que conversou com o ex-presidente Fernando Henrique pelo telefone sobre o tema. Também o governador derrotado do PSB de São Paulo, Marcio França, estaria envolvido nas negociações, e teria a companhia do ex-governador Geraldo Alckmin.
O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, deixou o MDB para ficar livre nessas negociações, mas está começando pelas bases, fortalecendo movimentos de renovação política, assim como Luciano Huck, que desistiu de concorrer à presidência da República, mas continuou atuando na formação de novos políticos.
Hartung diz que esse trabalho é mais importante do que formar um novo partido agora, quando as indefinições ainda dominam o cenário político. Desse ponto de vista, o que abriu espaço para a eleição de Bolsonaro foi o desgaste do PSDB junto a seu eleitorado, que migrou praticamente todo para ele, e a falta de lideranças novas que pudessem reforçar a confiança no partido.
A atuação dúbia dos tucanos, que passaram a fazer uma oposição desorientada no governo Dilma Rousseff, cujo episódio mais exemplar foi votar em bloco contra o veto da presidente Dilma a um projeto de acabava com o fator previdenciário, instrumento criado na gestão de Fernando Henrique Cardoso para frear o déficit da Previdência.
Votar contra um conceito do próprio partido para fazer uma demagogia barata contra o Tesouro, só para atrapalhar o governo do PT, demonstra claramente como o PSDB atuou, a partir da obsessão do senador Aécio Neves em dificultar a vida daquela que o derrotara na eleição de 2014. A conta chego
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