Tucano terá de inovar se quiser ver suas ambições levadas a sério no futuro
João Doria foi bem-sucedido até aqui ao transportar para a política o estilo impetuoso que desenvolveu primeiro como homem de negócios.
Eleito prefeito de São Paulo há dois anos, ele abandonou o cargo antes de chegar à metade do mandato e conseguiu se eleger governador, apesar da decepção de muitos eleitores com seu prematuro afastamento da capital.
Ao receber as chaves do Palácio dos Bandeirantes nesta terça (1º), o tucano passará a ser responsável pela administração do estado mais rico do país e assumirá o papel mais desafiador de sua trajetória.
O novo governador, que se viu obrigado a deixar de lado seus sonhos presidenciais neste ano, dificilmente terá suas pretensões levadas a sério novamente se não mostrar que pode ser mais do que um mero colecionador de troféus.
Após uma vitória apertada nas urnas, Doria se movimenta para tomar o controle do partido e trabalha para alinhar o discurso tucano ao sentimento expresso pela avassaladora onda direitista que levou Jair Bolsonaro (PSL) ao poder.
No campo administrativo, cercou-se de políticos e profissionais experientes, recrutando sete ex-integrantes do primeiro escalão do governo Michel Temer (MDB) para posições chave em seu secretariado.
À frente da pasta que cuidará das finanças do estado e coordenará um programa de privatizações, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles já indicou, corretamente, a manutenção da solidez orçamentária como sua prioridade.
Entretanto o sucesso da gestão Doria será medido pela sua capacidade de executar políticas públicas inovadoras em áreas como educação e segurança pública, em que a acomodação resultante de duas décadas de domínio tucano tem produzido resultados frustrantes.
À luz dos recursos a sua disposição e dos progressos ocorridos em regiões mais pobres, o desempenho da rede pública de ensino básico em São Paulo é medíocre —e sabe-se muito pouco sobre os planos de Doria para mudar essa situação.
A taxa de homicídios caiu de forma consistente nos últimos anos, mas São Paulo não alcançou o mesmo êxito ao tentar coibir roubos e outros delitos contra o patrimônio; mostrou-se incapaz, também, de conter a expansão do crime organizado.
Doria promete linha dura e escolheu um general da reserva para comandar a segurança pública. Com a expectativa de que chefes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC) sejam transferidos em breve para presídios federais, poderá enfrentar logo seu batismo de fogo.
Para lidar com áreas como essas, o novo governador precisará de paciência para articular forças políticas e conciliar interesses contraditórios. Se tiver perseverança, terá quatro anos para desenvolver as habilidades necessárias à tarefa.
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