- Folha de S. Paulo
Os melhores livros sobre política deste ano foram sobre crise
O livro-símbolo de 2018 foi “Como as Democracias Morrem”, de Steve Levitsky e Daniel Ziblatt. Trata-se de uma análise dos riscos que a eleição de Trump trouxe para a democracia americana feita por cientistas políticos que conhecem como poucos a história dos retrocessos democráticos recentes em lugares como Venezuela, Turquia, Hungria e Polônia.
Já sobre a crise da democracia mesmo onde ela ainda funciona, o destaque fica com “The People vs. Democracy”, de Yascha Mounk, que sairá no Brasil em abril de 2019. Entre os vários insights do livro, destaque para a discussão sobre “liberalismo não democrático” (a tecnocracia, a judicialização) e “democracia não liberal” (os variados populismos).
Na mesma linha, “Como a democracia chega ao fim”, de David Runciman, já valeria só pela discussão das dificuldades políticas trazidas por questões que talvez sejam grandes demais (aquecimento global) ou pequenas demais (epidemia de drogas) para um governo democrático.
“Fascismo: um Alerta”, da ex-secretária de Estado americana Madaleine Albright, é um alerta antiautoritário muito bem-feito por uma autora que conheceu os totalitarismos do século 20 e sabe o quanto o consenso democrático dos anos 90, apesar de tudo, merece ser defendido.
E, se você quer saber mais sobre a crise econômica que ajudou a criar e/ou acelerar todas essas crises políticas até o inferno, “Crashed”, de Adam Tooze, é um livraço, uma magistral história do crash de 2008, com ênfase na dificuldade política de proporcionar soluções nacionais para uma crise financeira eminentemente global.
No Brasil, os melhores livros também foram sobre crise: “Dinheiro, Eleições e Poder”, de Bruno Carazza, é uma investigação minuciosa sobre corrupção e financiamento de campanha informada pelos resultados da Lava Jato. Sugiro lê-lo em companhia de “Presidencialismo de Coalizão”, de Sergio Abranches, o cara que inventou o conceito que dá título ao livro, e agora escreveu uma história do negócio. E feche com a discussão sobre a atuação do Supremo nos últimos anos em “A Batalha dos Poderes”, de Oscar Vilhena Vieira.
Em 2018 começaram a sair as análises de esquerda da crise do petismo. “O Lulismo em Crise”, de André Singer, é uma discussão sobre o período Dilma feita pelo autor do que ainda é o melhor livro sobre a era Lula. “Valsa Brasileira”, de Laura Carvalho, mostra como a “Nova Matriz Econômica” foi inspirada na “Agenda Fiesp", um programa de incentivos à indústria que, enfim, vejam aí no que deu.
Sobre as guerras culturais que acompanham e aprofundam a crise atual, não deixe de ler o livro-reportagem “Em Nome de Quem? A Bancada Evangélica e seu Projeto de Poder”, de Andrea Dip. Nesses dias de governantes moleques se fazendo de homens, um bom antídoto é “Mulheres e Poder: um Manifesto”, da excelente historiadora britânica Mary Beard.
E, enfim, saindo da crise para o crônico, finalmente saiu em livro a tese de doutorado de Pedro Ferreira de Souza, “Uma História da Desigualdade: a Concentração de Renda entre os Ricos no Brasil (1926-2013)”, o melhor trabalho de ciências sociais feito no Brasil nos últimos anos.
Torçamos para que daqui a alguns anos os livros sejam sobre outra coisa, e não porque foram censurados.
--------------
Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
Nenhum comentário:
Postar um comentário