- Folha de S. Paulo
O que Bolsonaro pode aprender com seu primo húngaro
Embora a retórica ideológica tenha ocupado boa parte do tempo de Jair Bolsonaro no período de transição, suas prioridades precisarão mudar a partir de 1º de janeiro. O presidente eleito receberá a faixa com a popularidade em alta, mas seu sucesso dependerá de mudanças nos ponteiros da economia.
Acontecimentos recentes na Hungria podem servir de advertência. Em seu terceiro mandato seguido, Viktor Orbán ampliou seu poder ao corroer as instituições democráticas do país. O premiê capturou o Judiciário, manipulou o sistema eleitoral e ampliou o controle dos meios de comunicação, provocando reação de organismos internacionais.
Sua popularidade, entretanto, continuou praticamente intacta. Na última eleição, em abril, seu partido renovou no Parlamento a supermaioria de dois terços necessária para fazer mudanças na Constituição.
O primeiro revés significativo só ocorreu na semana passada, com a aprovação de uma lei que flexibiliza direitos trabalhistas. Pelo texto, patrões poderão exigir que funcionários trabalhem o equivalente a um dia a mais por semana, podendo pagar as horas extras só três anos depois.
As medidas autoritárias não trincaram a imagem do governo dentro do país, mas 15 mil pessoas decidiram protestar no centro de Budapeste quando pressentiram uma dor no bolso com a nova legislação.
Com um discurso nacionalista anti-imigração, Orbán surfou a onda conservadora, mas até marolas de insatisfação econômica costumam testar o poder de líderes populares.
É cedo para dizer se as manifestações na Hungria têm o mesmo DNA das jornadas de 2013 no Brasil e dos atos dos coletes amarelos na França. Nestes dois casos, medidas com impacto no custo de vida da população desencadearam megaprotestos.
Orbán e Bolsonaro conversaram por telefone em novembro. O brasileiro disse prever uma grande parceria com o premiê húngaro e elogiou suas posições sobre imigração. Seria bom que o presidente eleito acompanhasse o noticiário de Budapeste.
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