- O Globo
Pesquisa aponta que 69% dos entrevistados aprovam a democracia. Já partidos políticos perderam a influência pelo descrédito de suas ações
Na eleição mais radicalizada dos anos recentes, pontuada por declarações de ambos os líderes das pesquisas que remetem a ameaças à democracia, esse regime político, que, na frase famosa de Churchill, é o pior deles com exceção de todos os outros, aparece fortalecido pelos brasileiros em pesquisa Datafolha.
Em votação recorde, a maior desde 1989 quando se disputava a primeira eleição direta depois do regime militar, a democracia recebeu nada menos que 69% de aprovação, índice crescente na preferência dos eleitores, ao mesmo tempo em que os partidos políticos, canais da sociedade com o poder político, perderam momentaneamente a influência pelo descrédito de suas atitudes.
Segundo Max Weber, citado no Dicionário de Política de Norberto Bobbio e outros, o partido político é “uma associação que visa a um fim deliberado, seja ele objetivo, como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja pessoal, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente”.
No Brasil de 35 partidos, a maioria se enquadra na associação que “objetiva obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes”, mas alguns trabalham sobre “ideais”. A eleição de hoje é uma boa oportunidade para que se recomece a atividade política conspurcada pela corrupção generalizada, e o papel do vencedor será fundamental para essa retomada desejada pelos eleitores, que prezam a democracia e a consideram o melhor caminho para resolver seus problemas.
Ao contrário do que muitos apregoavam, apenas 12% consideraram que a ditadura é um regime melhor, e outros 13% mostraram-se indiferentes. É, pois, sob o signo da democracia que os eleitores vão às urnas hoje, e é preciso que os candidatos tenham isso em mente quando assumirem seus cargos, pois hoje ainda podemos ter a definição da escolha de vários governadores no primeiro turno e, quem sabe, até mesmo o do presidente da República.
Na última eleição presidencial que tivemos, a vencedora, Dilma Rousseff não se referiu a seu adversário derrotado no discurso da vitória. Nesta eleição, mais do que atitudes protocolares, normais em sociedades civilizadas, exige-se dos candidatos compromissos com a democracia e o reconhecimento da derrota dentro da legalidade do Estado de Direito.
Se, como é mais provável, a eleição para presidente não terminar hoje, os dois candidatos que restaram terão 20 dias para fazer uma campanha eleitoral de confrontação de idéias e propostas, tempo suficiente para recuperarem-se de eventuais arroubos retóricos e posicionarem-se como democratas, esquecendo projetos extemporâneos como a convocação de uma nova Constituinte ou a não aceitação de princípios democráticos implícitos em comentários que trivializam a possibilidade de um golpe.
Ao eleitor cabe pesar nas urnas a conseqüência de seu voto para o seu futuro e o do país, sem colocar interesses pessoais acima daqueles. A democracia é o regime em que o povo está representado pelos eleitos pelo voto direto, e a escolha dos membros do Congresso, por exemplo, é fundamental para que o futuro presidente possa governar.
Ao presidente eleito caberá necessariamente negociar com o Congresso e com os governos estaduais e municipais, principalmente num período em que reformas fundamentais precisam de apoio da população e dos políticos para serem aprovadas a tempo de permitir a recuperação econômica e social do país.
O presidente responde
Recebi do presidente Michel Temer uma mensagem sobre referência feita na coluna de ontem ao diálogo, que classifiquei de “nada republicano”, entre ele e o empresário Joesley Batista. Ele garante que é indevida a interpretação dada ao diálogo. Se apega a uma troca de palavras no documento do Ministério Público para reafirmar sua tese, mas, no entanto, ouvindo a íntegra do áudio fica evidente, para mim, o caráter nada republicano da conversa.
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