- O Globo
Bolsonaro apostou na radicalização ideológica para se eleger. A estratégia deu certo, mas agora ele terá que tirar a fantasia de candidato e governar
Na véspera da posse, Jair Bolsonaro se lembrou de falar sobre educação. Pelo Twitter, ele disse que o Brasil está nas “piores condições” dos rankings mundiais de aprendizagem. O novo presidente acertou no problema, mas errou na solução. Em vez de propor medidas concretas, prometeu “combater o lixo marxista que se instalou nas instituições de ensino”.
Bolsonaro apostou na radicalização ideológica para se eleger. A estratégia deu certo, e a onda conservadora o empurrou até a rampa do Planalto. Hoje se abre uma nova etapa na história. O capitão assinará o termo de posse, receberá a faixa e terá que descer do palanque para governar.
Pelo visto, não será uma mudança simples. Nos dois meses de transição, o novo presidente se manteve em clima de campanha permanente. Ameaçou retaliar adversários políticos, reforçou ataques à imprensa e esbravejou contra inimigos imaginários, como a “ideologia de gênero” e o “globalismo”.
Na primeira visita ao Congresso depois da vitória, ele repetiu com os dedos o gesto de atirar. No front internacional, acirrou a tensão com países amigos e se aproximou de líderes de extrema direita como o húngaro Viktor Orbán e o israelense Benjamin Netanyahu, que vieram de longe para assistir à posse. Donald Trump também foi cortejado, mas preferiu jogar golfe em seu resort na Flórida. Para representá-lo, despachou o secretário Mike Pompeo.
A retórica agressiva pode ajudar Bolsonaro a manter a claque animada por algum tempo. No longo prazo, os desafios serão mais complexos. O novo presidente antecipou as cobranças ao fixar metas para os cem dias inaugurais da sua gestão. Será o primeiro marco para comparar as promessas com a vida real.
Hoje Bolsonaro terá uma nova chance para moderar o tom e abandonar a fantasia de candidato antissistema. Ele falará duas vezes, no Congresso e no parlatório do Planalto. Depois de uma campanha com poucas propostas concretas, os discursos devem dar pistas do que nos aguarda nos próximos quatro anos. Mesmo assim, ainda será preciso esperar para ver.
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