Flávio Bolsonaro traz explicações inconsistentes e amplia desgaste do governo
Ganharam corpo nos últimos dias as suspeitas em torno da movimentação financeira do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e de Fabrício Queiroz, que era seu motorista até outubro passado.
O primeiro relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sobre as contas de Queiroz, que veio à tona em dezembro, apontou R$ 1,2 milhão em saques e depósitos incompatíveis com suas atividades conhecidas.
Na última sexta-feira (18), soube-se que o Coaf também tem razões para desconfiar de Flávio. Segundo o órgão, o filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) recebeu R$ 96 mil em dinheiro em junho e julho de 2017. Foram 48 depósitos de R$ 2.000, em cinco dias, num caixa eletrônico.
No fim de semana, o jornal O Globo noticiou que o Coaf encontrou R$ 7 milhões nas contas de Queiroz, entre 2014 e 2016.
A maneira como Flávio e seu ex-assessor reagiram a essas revelações contribuiu pouco para esclarecer a origem dos recursos que movimentaram, mas serviu para aumentar a estranheza do caso.
Chamado pelo Ministério Público do Rio para depor, Queiroz faltou em duas ocasiões, citando a necessidade de tratar um câncer. Antes de se internar, concedeu breve entrevista em que deixou a maioria das perguntas sem resposta.
Flávio, por sua vez, recorreu ao Supremo Tribunal Federal para travar as investigações, no que foi atendido pelo ministro Luiz Fux.
Numa série de entrevistas a emissoras de televisão, Flávio atacou os promotores que o investigam e disse que as transações financeiras estão associadas a negócios com um apartamento no Rio, que ele comprou na planta e depois vendeu.
Flávio aceitou que o comprador pagasse uma parcela em dinheiro e diz ser esta a explicação para os intrigantes depósitos de 2017. Faltou esclarecer por que preferiu fazê-los picados se poderia ter depositado tudo de uma vez só no caixa do banco, ou buscado formas mais simples para receber os valores.
Também soou pouco convincente sua justificativa para a corrida ao STF, onde ganhará direito a foro especial depois que assumir o mandato de senador, em fevereiro.
Flávio diz ser alvo de perseguição, mas o tribunal já deixou claro que a prerrogativa dos congressistas se restringe a atos praticados no exercício do mandato. Parece evidente que seu objetivo no Supremo é apenas ganhar tempo.
É uma estratégia perigosa, que prolonga o desgaste e aumenta o embaraço para o governo de seu pai —por mais que o vice-presidente, Hamilton Mourão, diga que uma coisa nada tem a ver com a outra.
O melhor para o país seria que Flávio parasse de apostar na confusão e oferecesse explicações consistentes para a origem e as andanças dessa dinheirama.
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