- O Globo
Por Alvaro Gribel
(*A colunista está de férias)
Quem alerta é o economista Paulo Tafner, autor de uma das propostas de reforma que está sobre a mesa do governo Bolsonaro. Sem equacionar a previdência dos estados e municípios, uma reforma dura da União será praticamente inócua. Apesar da romaria de governadores com pires na mão a Brasília, Tafner avalia que o problema está tendo a abordagem errada: “Só elevar alíquota de contribuição de 11% para 14%, como fez a prefeitura de São Paulo, é pouco, não resolve. É preciso tirar a previdência do Orçamento, fazer cálculos atuariais e permitir a cobrança extra para ativos e inativos. É muito mais amplo e profundo”, explicou.
Risco não precificado
Tafner diz que até mesmo na conversa com economistas do mercado financeiro a gravidade do problema não está inteiramente precificada. “Não adianta somente resolver a crise fiscal da União, porque os principais serviços públicos são oferecidos pelas prefeituras e pelos estados. E não existe cenário de a União ir bem e o resto ir mal. É preciso que isso esteja no projeto do governo”, afirmou. O economista já alertou a equipe de Paulo Guedes, mas quem vai definir a abrangência final da reforma será o presidente Jair Bolsonaro. Ontem, Goiás foi o sétimo estado a decretar calamidade financeira.
Davos ajuda Guedes
Na queda de braço interna pela reforma da Previdência, a ida de Bolsonaro a Davos vem em boa hora para o ministro da Economia, Paulo Guedes. Isso porque o presidente fará um discurso para impressionar investidores internacionais e pegará mal chegar ao Brasil e desidratar a proposta da equipe econômica. Dentro do governo, Guedes quer uma reforma mais forte e rápida, enquanto o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o próprio presidente entendem que um texto mais leve terá mais chance de aprovação.
Governo sem coalizão
O desgaste sobre o governo provocado pela movimentação financeira de Flávio Bolsonaro ainda é incerto, mas o cientista político Carlos Pereira, professor titular da FGV no Rio, avalia que a estratégia de demonizar as coalizões terá um custo político elevado para o presidente agora: “A coalizão serve não só para você aprovar, mas também para vetar agendas que vão trazer desgaste. Vai ser muito difícil ele impedir investigação sobre o seu filho. Bolsonaro pode se tornar vulnerável mais cedo, por não ter negociado apoio formal no Congresso”, disse.
Instituições funcionando
Carlos Pereira destaca a independência do Coaf, órgão subordinado ao Ministério da Justiça, que teve autonomia operacional mesmo quando precisou investigar a movimentação do filho do presidente eleito. “A nova democracia está vívida, o Coaf teve autonomia a ponto de criar constrangimento ao novo governo. Isso mostra que ela está funcionando em sua plenitude”, defendeu Pereira.
Oposição bate cabeça
O PT ameaça com a criação de uma CPI para investigar Flávio Bolsonaro no Congresso. Mas na visão do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, os partidos de esquerda ainda estão fragmentados desde as eleições e continuam batendo cabeça. “A ida de Gleisi Hoffmann para a posse de Maduro na Venezuela é um exemplo de como o PT está tendo dificuldade de conseguir ser uma canal de interlocução com parte do eleitorado. Isso facilita a contenção da crise pelo presidente Bolsonaro”, afirmou. Ainda assim, Cortez avalia que o episódio tem desgastado o governo em seu início.
Comércio cresce 1,8% em 2018
O movimento do comércio teve alta de 1,8% no ano passado, mostra indicador inédito que será divulgado hoje pela Boa Vista SCPC. Em dezembro, houve recuo de 1,5% sobre novembro, confirmando a perda de fôlego do varejo na reta final do ano. “A taxa em 12 meses já vinha desacelerando, mas a expectativa é de que volte a crescer ao longo deste ano para fechar 2019 com crescimento entre 2,5% e 3%”, explicou o economista Fábio Calife, responsável pelos indicadores econômicos da Boa Vista. Ele aposta no aumento da concessão de crédito, na recuperação do mercado de trabalho e na volta da confiança para acelerar as vendas.
(Com Marcelo Loureiro)
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