Entrega de ajuda humanitária na fronteira serve de teste para a consistência do apoio dos militares
Em uma crise como a da Venezuela, cada hora é decisiva. Hoje não será diferente, com o impasse sobre a abertura de “corredores” para ingresso da ajuda internacional em alimentos e remédios para a ampla maioria dos 32 milhões de habitantes acossados pela fome e doenças, em meio a um processo inflacionário que avança célere para marca pornográfica de 10.000.000% neste ano.
No entanto, para o grupo de comandantes das Forças Armadas que ainda compõe a cleptocracia chefiada pelo ditador Nicolás Maduro, esta deverá ser uma jornada crucial.
Eles têm o dever de decidir se obedecem ou não à ordem presidencial de impedir a passagem do socorro internacional por terra, na fronteira com o Brasil e a Colômbia, e por mar, via portos no Caribe. À beira do abismo, Maduro apresentou-lhes o “inimigo externo” — contêineres estacionados nas fronteiras recheados de víveres e medicamentos.
Se resolvem continuar com Maduro, precisam ter absoluta segurança de que serão respeitados nos quartéis. E mais: devem ter a certeza de que suas instruções para repressão aberta à população serão cumpridas por oficiais e soldados cuja situação em aquartelamento, com racionamento de comida, já não é muito diferente do padecimento dos seus familiares e vizinhos.
Será um teste para os comandantes do Exército, Jesús Chourio; de operações da FANB, Remigio Ichaso; da Marinha, Giuseppe Cimadevilla; da Força Aérea, Pedro Lartíguez, e da Guarda Nacional, Antonio Benavides, entre outros.
Ontem, um trágico episódio na fronteira com o Brasil deu a dimensão do problema que esses comandantes militares têm pela frente. Ansiosa pela ajuda humanitária, a tribo Pemón impediu o avanço dos carros blindados da Guarda Nacional Bolivariana para uma área fronteiriça, onde estão sendo estocados alimentos e remédios para distribuição hoje. O chefe dessa força policial de choque, general José Miguel Montoya Rodríguez, ordenou ataque à bala. Deixou dois mortos e dezena e meia de feridos a 20 quilômetros de Paracaima, em Roraima. A tribo revidou. Sequestrou o general Montoya e sua escolta.
Enquanto isso, multidão se aglomerava em Cúcuta, cidade colombiana fronteiriça, situada a dois mil quilômetros a oeste de Pacaraima. Ali, hoje, será deflagrada a ajuda humanitária, com um espetáculo musical que evoca os shows beneficentes de quatro décadas atrás contra a inanição em Biafra e Bangladesh.
O drama ganha cores fortes. É como escreveu o bispo Mario Moronta, da Comissão Episcopal, em carta a Maduro na última segunda-feira: “Escute o povo. Abra a porta, vá e fique de lado. A imensa maioria está pedindo que não continue à frente do Poder Executivo”. O fim dessa cleptocracia é previsível. Os chefes militares aliados ao ditador podem decidir hoje os próprios limites na crise.
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