Nenhuma ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos e pelo Brasil chegou à Venezuela. O esquema militar-policial planejado pelo presidente Nicolás Maduro mal permitiu que os caminhões ultrapassassem a faixa que separa as fronteira da Colômbia e Brasil dos primeiros postos alfandegários venezuelanos. Houve confrontos, dois caminhões com mantimentos e remédios incendiados, 4 mortos e 300 feridos. Ontem, o Grupo de Lima, formado pelo Brasil e por países da América Latina e Caribe que defendem a volta da democracia à Venezuela, prometeu intensificar as pressões diplomáticas para que Maduro ceda e convoque eleições, algo improvável diante da demonstração de força bem-sucedida exibida no fim de semana.
A oposição venezuelana, dirigida pelo presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, autoproclamado presidente e reconhecido como tal por cinco dezenas de países, parece ter chegado ao limite de sua estratégia de pressões sem recurso à força. Guaidó, que desobedeceu ordens da Justiça para deixar o país e participar das manifestações na Colômbia e da reunião do Grupo de Lima, em Bogotá, esperava uma "avalanche de ajuda" capaz de dividir os militares e impor, pela força das multidões, um revés importante ao governo.
Nada disso ocorreu. A tentativa repetiu o impasse de outras grandes manifestações de massa da oposição. Ela tem força política e apoio de boa parte da população, mas isso é insuficiente para retirar Maduro, que detém o monopólio das armas, do poder. A casta chavista que domina o Estado certamente corroeu o resto de prestígio que detinha, ao recusar-se a receber a mais que óbvia e necessária oferta de comida e remédios feita por vários países e impedir pela força seu ingresso no país.
Para defender o indefensável, Maduro atropela a lógica. Disse que não precisava de "esmolas" e poderia pagar por tudo o que o Brasil lhe oferecia de graça. Sabe, porém, que não há dinheiro e que, se houvesse, o país não se encontraria diante da extrema escassez de bens básicos. O presidente insiste em negar a realidade e a refutar que exista algo de errado acontecendo no país.
A esperada cisão dos militares e um golpe que expulse Maduro do Palácio Miraflores, aguardado pela oposição, não ocorreu até agora e pode não ocorrer - aparentemente, a única saída possível. Uma intervenção militar americana, por outro lado, seria uma aventura de enorme riscos e um abraço de morte nos políticos de oposição que a apoiassem, porque não contaria com apoio popular. Guaidó chegou a flertar com a possibilidade - "manter todas as opções em aberto" -, mas ontem a refutou.
A política de Bolsonaro é oposta à dos governos petistas, de apoio aos chavistas. Ela mantém-se dentro dos limites das pressões calculadas, apesar da retórica inflamada do Itamaraty. O governo brasileiro não tem o menor interesse em uma escalada militar contra o país vizinho, nem em participar de uma em que os EUA assumam o risco da ofensiva. Ontem, no Grupo de Lima, o vice-presidente Hamilton Mourão foi enfático nos dois sentidos. Rejeitou "aventuras" e recurso a "medida extrema que nos confunda com aquelas nações que serão julgadas pela história como agressoras, invasoras e violadoras das soberanias nacionais" - uma alusão aos EUA.
Não há mais caminhos viáveis para influenciar diplomaticamente o governo de Nicolás Maduro. Até o papa Francisco recusa-se a intermediar nova rodada de negociações entre governo e oposição, já que da última vez o Vaticano referendou tratativas que se revelaram nada mais ser que uma forma de Maduro ganhar tempo e enrolar todos. México e Uruguai apostam em novas tentativas para convencer o presidente venezuelano a convocar eleições democráticas.
Os EUA apostam no isolamento do regime com sanções econômicas. Mike Pence, o vice-presidente americano presente na reunião do Grupo de Lima, instou os demais governos a intervirem nos ativos da PDVSA colocar os recursos à disposição de Guaidós, enquanto amplia a lista de altos mandatários do regime com sanções. Até agora essas ações obtiveram escassa influência sobre os humores do regime e os efeitos que possam produzir é o de piorar ainda mais a escassez de comida e remédios no país. Não há mais, respeitando-se a soberania nacional da Venezuela e o princípio da não intervenção, meios de pressão distintos dos que estão sendo usados.
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