- O Globo
A maré de renovação que varreu as urnas país afora chegou ontem à disputa pelo comando do Senado. Apesar de ter sobrevivido à onda eleitoral de outubro, Renan Calheiros não resistiu ao apelo por mudanças na Casa que presidiu quatro vezes. Lançado na disputa pelo chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o senador Davi Alcolumbre beneficiou-se de uma coalizão improvável: para derrotar Renan, bolsonaristas se uniram aos senadores da renovação e a alguns dos principais líderes da oposição.
Se conseguiu colocar na cadeira de presidente um aliado, o Planalto não deve, no entanto, esperar vida fácil na Casa. A atuação ostensiva do chefe da Casa Civil durante a disputa, que inclusive comemorou nas redes sociais o resultado, deve deixar, por muito tempo, feridas abertas no grupo derrotado. E, ao contrário do que tradicionalmente ocorre, o governo sabe que não poderá contar com boa parte dos senadores que elegeram o novo presidente.
Dois dos principais articuladores de Alcolumbre foram os senadores Randolfe Rodrigues (Rede) e Tasso Jereissati (PSDB) —o primeiro integra o bloco de oposição moderada, que tenta se diferenciar do PT, enquanto o segundo, embora apoie a agenda de reformas econômicas, pertence à ala tucana mais distante do governo.
A pulverização de candidaturas —chegaram a ser nove —mostra que a primeira tarefa do governo será organizar uma base parlamentar mínima que permita o avanço de negociações políticas na Casa. Ironicamente, apesar de ter sido um dos vencedores da tarde de ontem, Onyx Lorenzoni dificilmente será aceito como interlocutor pelo grupo derrotado. Para piorar, o ministro já havia rompido pontes na véspera, durante a disputa da Câmara.
O governo terá nos próximos meses, portanto, um desafio paradoxal: embora os presidentes das duas Casas, ambos do DEM, tenham disposição para pautar as reformas, será preciso muita negociação para conseguir os votos necessários para aprová-las.
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