domingo, 3 de fevereiro de 2019

Renan desiste, e Davi é eleito no Senado com o apoio do governo

Após articulação do Planalto e sessão tumultuada, emedebista abre mão da candidatura. Pressão por renovação pesou

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) desistiu ontem da candidatura à presidência da Casa, abrindo caminho para a vitória de Davi Alcolumbre (DEM-AP), nome apoiado pelo governo federal. A saída de Renan marca o fim de um período de 16 anos em que seu grupo no MDB presidiu o Senado e foi resultado também de pressão dos demais senadores, inclusive de oposição, por uma renovação na Casa. Após liminar do STF determinar que a votação deveria ser secreta, muitos senadores decidiram, em protesto, mostrar suas cédulas. Ao perceber que não seria eleito, Renan desistiu e indicou que pretende dificultar votações de interesse do governo. Aos 41 anos, Davi está no meio do seu primeiro mandato no Senado.

Senador do Amapá une oposição e governo e acaba com dinastia do MDB

André de Souza, Amanda Almeida, Eduardo Bresciani, Gabriela Valente, Jussara Soares e Manoel Ventura | O Globo

BRASÍLIA - Uma inusitada aliança entre Palácio do Planalto, senadores recém-eleitos na onda de renovação que atingiu as urna sem outubro e algumas das principais lideranças de oposição a Bolsonaro levou ontem à eleição de Davi Alcolumbre (DEM-AP), 41 anos, para presidir o Senado nos próximos dois anos. O resultado pôs fim à dinastia do MDB de Renan Calheiros( AL)à frente da Casa.

O grupo comandava o Congresso há 16 anos, vencendo nove eleições consecutivas. Alcolumbre venceu no primeiro turno com 42 votos, um a mais que o necessário, após Renan desistir da disputa. 

— Situação e oposição contarão com o mais amplo respeito. (...) Espero e confio que possamos entregar, ao fim deste biênio que se inicia, com o país retomando os trilhos de desenvolvimento e da prosperidade, as reformas complexas que, com urgência, nosso país reclama — anunciou Alcolumbre.

Depois de o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, ter ordenado, durante a madrugada, que a votação fosse secreta, a primeira tentativa de escolher o novo comando da Casa acabou anulada.

Ao ser aberta, a apuração somou 82 cédulas, em uma Casa que tem 81 senadores. Foi quando um a nova rodada de votação estava na metade que Renan surpreendeu, subiu à tribuna e renunciou à sua candidatura, abrindo caminho para a vitória fácil de Alcolumbre.

Proferida na madrugada, a decisão de Toffoli foi comemorada pelo emedebista e seus aliados. Para eles, as chances do grupo eram muito maiores e seria possível até mesmo uma vitória no primeiro turno com o voto secreto.

Os adversários, porém, fizeram uma campanha para que, além de declarar o voto, os senadores mostrassem as cédulas antes de as depositarem nas urnas. Na primeira rodada de votação, 30 senadores tinham feito tal ato e nenhum deles votara em Renan.

Quando se constatou que havia 82 cédulas na urna, optou-se por uma nova votação, já no final da tarde. Entre os fiscais de urna estava Acir Gurgacz(PDT- RO ), que está preso em regime semiaberto.

O reinício da votação mostrou que a confiança do grupo de Renan estava ameaçada. Aliado fiel, o senador Jader Barbalho (MDB-PA) abandonou o plenário reclamando que os colegas não sabiam “nem votar”.

A senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) foi a primeira a votar e, ao contrário do que havia feito na primeira rodada, exibiu o voto a favor de Alcolumbre.

Pouco depois, Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, decidiu mostrar sua cédula com voto no candidato do DEM. Na primeira tentativa de votação, ele não declarou o voto. Em seguida, o senador Roberto Rocha (MA), do PSDB como Gabrilli, anunciou que seu partido fechara questão pela exibição do voto.

BOLSONARO PARABENIZA
Renan subiu à tribuna, reclamou da mudança de postura de Flávio e dos tucanos. Afirmou que o processo não era democrático e que, por isso, desistia da disputa. Concluiu citando o ex-deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que renunciou ao mandato, para dizer que continuaria no Sena dopara resistir a seus adversários, em um recado ao governo. — Queria dizer que o Davi não é Davi, ele é o Golias. Ele é o novo presidente do Senado e eu retiro minha candidatura, porque eu não vou me submeter a isso. Eles querem ganhar de todo jeito, com o voto da minoria, isso não pode acontecer. Eu não sou o Jean Wyllys. Eu não vou renunciar ao meu mandato. Eu vou ficar aqui no Senado —disse o emedebista, com forte reação do plenário.

A votação prosseguiu em ritmo de festa de aliados de Davi Alcolumbre. Sua candidatura cresceu por ter recebido o apoio direto do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de quem é amigo. Nas redes sociais, Onyx citou um verso bíblico para comemorar a vitória do governo:

“Davi respondeu: ‘Você vem contra mim com espada, lança e dardo. Mas eu vou contra você em nome do Senhor Todo-Poderoso, que você desafiou.’ Brasil acima de tudo, Deus acima de todos! Viva o BRASIL”, escreveu Onyx, fazendo uma referência ao slogan da campanha.

O presidente Jair Bolsonaro, hospitalizado após cirurgia para a retira dada bolsa de colostomia, foi a uma rede social para parabenizar o senador: “Meus cumprimentos pela indicação de seus pares ao comando do Senado. O senhor tem como desafio transformar em ações o sentimento de mudanças que a população expressou nas últimas eleições. O governo está pronto para também cumprira sua missão. O Brasil tem pressa!”.

Com a vitória de Alcolumbre, o DEM estará no comando de Câmara e Senado, já que Rodrigo Maia (RJ) foi reeleito, anteontem, pelos deputados.

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