- Folha de S. Paulo
Erro se assemelha ao que levou Michel Temer a receber à noite visitas de Joesley Batista
Jair Bolsonaro está na situação de lutador que levou um direto no queixo logo no início do primeiro round. Um presidente da República com a palavra frontalmente confrontada, com prova gravada, num caso inequívoco, o da conversa que ele negava ter tido com o ex-ministro Gustavo Bebianno.
A discussão que Bolsonaro tentou criar sobre o significado de conversar é ela própria conversa fiada. Morre já na primeira definição do dicionário Houaiss: “trocar palavras”.
Ele deixou o queixo exposto por soberba —daquele mesmo tipo que levava Michel Temer a receber à noite visitas de gente como Joesley Batista.
Bolsonaro descumpriu um protocolo básico de segurança do cargo. O WhatsApp pavimentou o caminho do candidato até o Planalto, mas não deveria ser usado pelo presidente para se comunicar com seus subordinados. Foi justamente por isso que a Abin lhe entregou um aparelho criptografado chamado TCS (terminal de comunicação segura), como mostrou reportagem da Folha publicada antes de as mensagens se tornarem conhecidas.
Naquele texto, o porta-voz Otávio Santana do Rêgo Barros explicava o uso do WhatsApp por Bolsonaro: “Ele utiliza para mensagens informais. Em relação aos assuntos que exigem reserva, ele opta pelos meios de comunicação da Presidência”.
Os áudios desmentem também o porta-voz. Neles, Bolsonaro dá ordens pelo aplicativo. Não versa sobre coisas pequenas: desmarca reunião e viagem de ministros. Recorre à autoridade para deixar claro que fala oficialmente. “Como presidente da República: cancela, ponto final”, diz a Bebianno. A formalidade informal é mais um sintoma de como ele não compreendeu direito o cargo.
Noutro dos rolos whatsappeiros deste governo, um assessor do ministro do Turismo pediu a uma candidata laranja que devolvesse o dinheiro do fundo partidário. Na conversa, ele argumenta: “Nosso Deus sabe de todas as coisas”. Pois é, o WhatsApp também sabe.
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