O presidente americano Donald Trump recuou de sua intenção imediata de aumentar tarifas para 25% sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, programado para sexta-feira. Na noite de domingo adiou a medida porque, houve "progressos substanciais" na rodada de negociações encerrada em Washington. Os entendimentos envolveram temas como proteção à propriedade intelectual, transferência de tecnologia, agricultura, serviços e moeda. A trégua interessa a Trump que se encontra ainda nesta semana com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong Un, aliado da China.
O suspense permanece no comércio global, porém, uma vez que um acordo somente será selado entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, em data ainda não marcada, se mais progressos forem feitos. Além disso, o presidente americano patrocina uma onda de tensão em outra frente, depois de ter apresentado uma proposta que pode excluir mais de duas dezenas de países emergentes do tratamento "especial e diferenciado" nas negociações comerciais, ao mesmo tempo em que ameaça taxar em 25% as importações de automóveis e autopeças, alegando questão de segurança nacional.
Washington propôs à Organização Mundial do Comércio (OMC) apertar os critérios para determinar se um país pode receber tratamento especial em negociações comerciais no âmbito da OMC, em mais um de seus movimentos para reformar a organização. Os EUA não apontaram países individualmente, embora frequentemente acusem a China e a Índia de se colocarem como emergentes para obterem vantagens e escapar da aplicação de certas regras negociadas na OMC. Mas os critérios foram talhados para abranger também Brasil, África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Brunei, Cingapura, Chile, Coreia do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos Filipinas, Hong Kong, Indonésia, Israel, Kuwait, Malásia, México, Nigéria, Qatar, Tailândia, Taiwan, Turquia e Vietnã.
De acordo com o projeto, não mereceriam tratamento especial países que fazem parte da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE); os membros do G-20; os classificados como de "alta renda" pelo Banco Mundial; e os que respondem por mais de 0,5% do comércio mundial. O assunto está na pauta do Conselho Geral, o órgão máximo da OMC, nesta semana.
Nos próximos dias, Trump também deve decidir se vai impor tarifa de 25% sobre a importação de automóveis e autopeças, o que afetaria alguns de seus principais parceiros da União Europeia e o Japão. O Departamento do Comércio finalizou investigação para determinar se a importação de carros ameaça ou não a segurança nacional dos EUA e entregou o documento ao presidente, que estuda o assunto.
Há quase um ano, em março de 2018, Washington recorreu ao mesmo argumento para penalizar as importações de aço e alumínio, causando grande repercussão e debate global. Embora tivesse como alvo principal as vendas chinesas, a medida repercutiu nas exportações brasileiras e desencadeou uma onda de protecionismo. A União Europeia acabou também penalizando o produto brasileiro e o de outros países com receio da pressão de vendas dos excedentes.
Na época, Trump chegou a cogitar taxar os automóveis importados, mas o tema ficou em suspenso enquanto discutia uma revisão tarifária com a União Europeia. De lá para cá as exigências americanas foram se ampliando, mas as autoridades europeias confiavam que os automóveis sairiam ilesos. Parece que se enganaram, e já avaliam como reagir. A União Europeia estuda tarifas retaliatórias sobre produtos americanos, num valor total de € 20 bilhões, caso Trump cumpra a sua ameaça. O setor automobilístico da Alemanha pode ser a principal vítima.
Um dos principais pontos de debate, que intriga os especialistas, é o argumento da ameaça à segurança nacional, uma vez que a produção doméstica não atende a demanda local. A premiê Angela Merkel lembrou que a maior fábrica da BMW não está na Baviera, sua sede, mas em Spartanburg, na Carolina do Sul, e que muitos dos carros alemães vendidos no mercado americano são, na verdade, produzidos localmente.
Os movimentos de Trump mostram também que os EUA têm interesses muito determinados e não estão dispostos a abrir mão de seu poder econômico à toa. A estocada contra o Brasil na OMC é mais um lembrete de que alinhamento automático com os EUA não é um bom negócio.
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