Demonizado na campanha, entendimento com o Congresso é vital para aprovar as reformas
Entre os piores passivos deixados pelo lulopetismo estão, na economia, o desmantelamento fiscal do Estado, de que resultou a grande recessão de 2015/16, uma crise grave que se reflete até hoje na lenta recuperação da economia; e, na política, o mau entendimento do que é o “presidencialismo de coalizão”.
Ele pressupõe negociações entre governo e partidos, para garantir a sustentação parlamentar à execução de um programa sancionado nas urnas, mas não pode ser confundido com um liberou geral ético. É o que aconteceu nos governos de Lula e Dilma —aí estão como provas o mensalão e o petrolão, que continua a gerar forte noticiário sobre corrupção.
Talvez o vale-tudo do toma lá da cá praticado pelo PT com aliados precisasse ser muito amplo para sustentar o megalômano projeto de hegemonia política e ideológica do partido. Não se tratava apenas de governar, mas de se perpetuar indefinidamente no poder, não importando os meios. A qualquer custo. Os resultados políticos e penais são conhecidos.
Uma das graves mazelas que este erro de visão produziu foi amaldiçoar a negociação política entre governo e Congresso, para o Planalto conseguir avançar com seus projetos. Tudo virou fisiologismo. E não é assim, haja vista a experiência do governo de Fernando Henrique Cardoso.
O candidato Jair Bolsonaro soube captar o sentimento na sociedade contrário “a tudo isso que está aí” — como fizera Lula na campanha de 2002 —, e moldou um discurso contra a corrupção e a política profissional. O que terminou erguendo obstáculos a seu próprio governo, cuja missão é executar reformas, a começar pela Previdência.
E sem apoio no Congresso, onde precisará de um mínimo de 308 votos na Câmara e 49 no Senado, para aprovar mudanças na Constituição, não sairá do lugar. O governo estará fadado ao fracasso, antes de começar.
Mas surgem evidências de que o presidente começa a entender que não se pode demonizar apolítica e seus ritos, um deles a negociação e o atendimento de pedidos legítimos de aliados. Como afirmou o cientista político Carlos Pereira, professor da Fundação Getulio Vargas, ao GLOBO, é preciso um ajuste “diante da visão ingênua que o governo tinha de que seria possível governar no presidencialismo multipartidário sem coalizão”. Com o agravante de que o Brasil tem uma pulverização excessiva de legendas, que só agora começa a ser enfrentada por uma “cláusula de desempenho”, mesmo que tímida.
Há limites éticos e legais nítidos a serem cumpridos: indicados a cargos precisam ter competência técnica para ocupá-los; e é proibido roubar, em todas assuas modalidades, mesmo as mais sutis.
Funciona assim nas democracias consolidadas. O parlamentar representa eleitores e suas aspirações—melhor infraestrutura em geral, por exemplo. Atendê-lo não é crime. Depois da sucessão de escândalos dos últimos anos não há dificuldade em se saber o que é legal ou não.
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