A economia brasileira continua anêmica, após sair de uma das mais ruinosas recessões em um século. O Produto Interno Bruto cresceu 1,1% no ano passado, o mesmo ritmo de 2017. É a recuperação mais fraca e mais demorada pelo menos desde a crise asiática, em 1997. Não se esperava um número muito diferente, mas a fraqueza do último trimestre do ano, com expansão de 0,1%, jogou uma nuvem cinza sobre projeções de expansão de 2,5% (mediana do boletim Focus) para 2019, que agora parecem róseas. Não há nenhum sinal claro de aceleração e a herança estatística, com o desempenho medíocre, é de apenas 0,4%.
A tendência não é promissora, mesmo que alguns números bons apareçam no conjunto das estatísticas. A taxa acumulada em quatro trimestres, considerada a oferta, mostra que apenas a construção segue em nível negativo (-2,5%). Fortemente empregadora, ela declinou 7,5% no último trimestre de 2017, melhorou mas, desde meados de 2018, perdeu fôlego de retomada. Essa é quase uma constante do comportamento do subconjuntos que formam o PIB. Desde o segundo trimestre, impactado pela greve dos caminhoneiros, o ímpeto de expansão, que já não era intenso, se perdeu.
O ano começou melhor do que terminou. O setor de serviços, que carrega consigo quase dois terços do PIB, crescia 1,5% no segundo trimestre e encerrou em 1,3%. A indústria exibiu um novo falso positivo de recuperação e após dois trimestres consecutivos de altas recuou 0,3% no último trimestre. A agropecuária, que cresceu 12,5% em 2017, terminou o ano passado com ínfimo 0,1%.
O consumo das famílias, com peso semelhante no cálculo na demanda agregada que o setor de serviços tem no da oferta, mostrou comportamento estável nos três primeiros trimestres para reduzir seu ritmo no último, para 1,9%. Os investimentos, medido pela formação bruta de capital fixo, aumentaram significativamente, deixando uma retração de - 2,5% em 2017 para uma expansão de 4,1% no ano passado. Não foi um desempenho linear, no entanto. O período eleitoral lhes fez mal. A FBCF avançou 5,5% no terceiro trimestre, mas chegou ao último com queda de 2,5%. Atingiu 15,8% do PIB, maior que os 15% de 2017, mas ainda assim entre as quatro menores desde 2000.
O consumo das famílias puxou o PIB, enquanto que o setor externo retirou 0,5 ponto percentual da taxa final (a demanda doméstica subiu 1,6%). Todos os componentes da demanda agregada, porém, recuaram no último trimestre de 2018 em relação ao anterior. Há limites para que o consumo possa ser forte o suficiente para empurrar a taxa de crescimento de 2019 para a casa dos 2,5%, especialmente se considerados os demais fatores.
Com a economia com grande capacidade ociosa, os investimentos em ampliação não decolarão e o impulso terá de vir dos projetos de infraestrutura e concessões, um processo que demora a andar, em especial no primeiro ano de um governo que não é de continuidade. As expectativas que têm peso para os investimentos estão lastreadas na aprovação de uma reforma da previdência robusta, ainda incerta. Na melhor das hipóteses, isso consumirá todo o primeiro semestre, o que significa que os investimentos poderão crescer, mas não disparar.
A contribuição do setor externo tende a ser negativa, como foi em 2018. Entre 2007 e 2018, essa contribuição só foi positiva nos anos de recessão (2014 a 2016) ou marginal, na recuperação tímida de 2017. Alguma melhoria no ritmo de atividades vem acompanhada da elevação de importações, enquanto que a desaceleração da economia global joga contra um aumento significativo das vendas externas. Já o consumo do governo, por força do ajuste fiscal, parou de crescer e tem peso importante no PIB, de 19,7%. Não se pode esperar nenhum impulso relevante deles neste ano.
O consumo das famílias precisa dar um bom salto para garantir que o PIB acelere para 2,5%. Os sinais de 2019 não são bons. O desemprego em janeiro não caiu, os dados do Caged ficaram abaixo das expectativas e as novas concessões de crédito para pessoas físicas, que desaceleraram desde meados de 2018, declinou (4,1%) no mês. Os juros aumentaram. A massa salarial e o salário médio avançam modestamente. Estimando-se o mesmo desempenho de 2018 para o consumo do governo e o setor externo, e alta de 5% dos investimentos, o consumo teria de crescer 3,5% para o PIB chegar a 2,5%, isto é, avançar mais de 50% sobre o melhor momento de 2018. É difícil. O passado continua sufocando o presente.
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