- Revista Veja
O governo patrocina espetáculo de novatos, há dois meses em cartaz
O desempenho dos militares nomeados para postos-chave no governo tem surpreendido positivamente e remete à máxima de que de onde menos se espera é que saem as boas surpresas. Já outra banda, a formada pelo governo & seus novatos, obedece à inversão do dito na visão do Barão de Itararé: de onde menos se espera é que não sai nada mesmo.
Nesse aspecto, alguns ministros, a maioria composta dos ditos ideológicos, não decepcionaram. Vistos com desconfiança quando nomeados, Damares Alves, dos Direitos Humanos, Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, Ricardo Vélez, da Educação (esses últimos da lavra de Olavo de Carvalho), Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, formam na linha de frente no quesito amadorismo e inadequação ao cargo.
Antes de prosseguir na exibição do número de cada um deles, um exemplo de diletantismo até entre os que dão conta muito bem do respectivo riscado: inexperiente no trato parlamentar, Paulo Guedes, da Economia, pretendeu tocar a reforma da Previdência dando “uma prensa” no Congresso.
Voltando ao show dos calouros, por ordem de entrada em cena temos a ministra Damares e suas obsessões de referências sexualizadas. Escolhida para dar uma lição (humilhar) em Magno Malta, de quem era assessora, por ele ter se exibido em cadeira de primeiro escalão antes do tempo, a ministra superou as expectativas logo no início e hoje é vista como uma espécie de piada pronta.
O chanceler, pinçado da instância, digamos, não de primeira linha do Itamaraty, está tendo oportunidade de confirmar posições já expressas em escritos algo fora do esquadro agora na crise da Venezuela. Ernesto Araújo atua em total desacordo com a tradição de moderação da diplomacia brasileira (seguindo mais a regra do antecessor com sinal invertido do que a norma dos predecessores) e, pelo estilo belicoso arremedado de Donald Trump, tem sofrido invertidas da ala militar.
O titular da pasta da Educação, que já exibia uma boa coleção de maus ditos e piores feitos, recentemente teve uma ideia. Como se corresse tudo muito bem nessa área, resolveu cumprir a determinação do presidente Jair Bolsonaro de incentivar a preservação de símbolos nacionais nas escolas, pretendendo transformar estudantes em garotos-propaganda de uma linha de pensamento, no caso, conservador. Dados o autoritarismo e a ilegalidade do método, não encontrou respaldo em lugar algum e ficou falando sozinho. Simplesmente não há quem aceite o pedido de filmar a estudantada cantando o Hino Nacionalantes das aulas.
Valem registro as performances de Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e seus títulos acadêmicos inexistentes, e de Marcelo Álvaro, do Turismo, em sua tentativa negada pela Justiça de proibir a imprensa de publicar seu nome em reportagens sobre o laranjal do PSL em Minas, então presidido por ele.
Ficou alguém do elenco de fora dos créditos do espetáculo? Ah, sim, os filhos, mas falam tanto e de maneira tão rústica que, não demora, ninguém dará importância ao que dizem.
Publicado em VEJA de 6 de março de 2019, edição nº 2624
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