- O Globo
PIB anêmico tem que servir de alerta ao governo e ao Congresso: A economia não vai voltar a crescer por inércia, é preciso acelerar a agenda de reformas
O pior do PIB não é o número magérrimo, mas sim a constatação de que nem somos ainda do tamanho que já fomos. Não nos levantamos do tombo ocorrido no governo Dilma após os sucessivos erros de política econômica. A economia não consegue pegar ritmo, o máximo alcançado até agora foi sair da recessão há dois anos. Neste ponto, continuamos parados. Em termos de PIB per capita, o país está 8% abaixo do que já foi. Essa destruição de valor, de atividade, de emprego está relacionada diretamente com a crise fiscal. Mas não apenas isso. Há muito mais a ser feito se o país quiser realmente crescer.
Pelo segundo ano consecutivo, a economia brasileira ficou em 1,1%. O crescimento de 2018 repetiu o resultado de 2017, frustrando expectativas do começo do ano de uma recuperação em torno de 3%. Mesmo no quarto trimestre, o resultado foi fraco, com alta de apenas 0,1%, e isso coloca em dúvida as projeções de 2,5% para este ano. Certamente nas próximas semanas os economistas vão rever esta previsão para baixo.
A crise brasileira vai muito além do problema fiscal. O país precisa aumentar a produtividade e a competitividade. A construção civil caiu pelo quarto ano consecutivo. No mercado se informa que a aprovação da lei do distrato imobiliário poderá destravar o setor este ano. Mas há muito mais por trás dessa paralisia de várias áreas. As taxas de juros cobradas das empresas e das famílias permanecem elevadas — subiram novamente em janeiro — mesmo com a redução da Selic, da Agenda BC+ do Banco Central, e do recuo da inadimplência.
A tragédia de Brumadinho colocou em xeque o setor de mineração, um dos grandes exportadores do Brasil, e o corte da nota de crédito da Vale, que perdeu o grau de investimento, mostra que uma das nossas principais empresa passará por um ano de dificuldades. A Petrobras felizmente voltou ao azul, depois da gestão acertada dos ex-presidentes Pedro Parente e Ivan Monteiro, mas ainda está com investimentos acanhados. A preocupação da empresa continua sendo redução do endividamento. A meta do novo presidente da empresa, Roberto Castello Branco, é sanear as contas da companhia e vender ativos.
A economia mundial tem trazido complicadores. Ainda sente os efeitos da disputa entre EUA e China, há o risco Brexit, a desaceleração na Argentina, e há pouca expectativa de que o Brasil seja empurrado pelas exportações.
Os investimentos caíram 2,5% no quarto trimestre na comparação com o terceiro tri e isso reduz as expectativas de crescimento futuro. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve desaceleração de 7,8% para 3%. O início de um novo governo e a agenda liberal do ministro Paulo Guedes ainda não foram suficientes para aumentar a confiança na economia a ponto de estimular os investimentos. É preciso provar que o governo consegue entregar um pouco do que promete na economia. A Previdência é apenas a primeira das tarefas.
O mercado de trabalho continua muito ruim. Há mais gente empregada, mas o número de desempregados continua igual: 12,7 milhões. O economista Bruno Ottoni, do Ibre/FGV, que acompanha o mercado de trabalho, não enxerga grandes avanços em 2019, mesmo se for aprovada a reforma da Previdência. Pelas suas estimativas, o país chegará em dezembro com o mesmo número de desempregados de um ano antes.
— Para o desemprego cair, o PIB tem que crescer com mais força. E isso ainda não aconteceu. Há também questões pontuais. A MP que regulou a reforma trabalhista do governo Temer caducou, e não se vê ninguém no governo Bolsonaro falando no assunto. Há a ideia de criação da carteira verde amarela. São mudanças que promovem insegurança jurídica e deixam os empresários em compasso de espera, porque eles não sabem o que vai prevalecer —explicou.
O PIB do quarto trimestre deve servir de alerta para o governo e para o Congresso. A economia continua anêmica, sem capacidade de reação. O país não voltará a crescer por inércia. É preciso enfrentar os gargalos e acelerar a agenda de reformas. Os milhões de desempregados têm pressa. O discurso de mudança da situação econômica tem que deixar de ser apenas uma promessa de palanque. O mesmo eleitor que consagra é o que se afasta daquele que não entrega o que prometeu.
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