O crescimento da economia mundial é um fator decisivo para o avanço das exportações brasileiras. A expansão do nível de atividade local, por seu lado, joga em sentido contrário, revelam dois estudos do Relatório de Inflação do Banco Central de março. Conclusões mais amplas, que não estão nesses textos: falta competitividade para que os produtos brasileiros ganhem espaço mesmo quando mercados são adversos e, relacionado a isso, o canal das exportações não é perene. As empresas preferem recolher-se ao mercado interno quando ele dá mostras de prosperidade. No curto prazo, as exportações brasileiras vão se contrair porque não só o comércio internacional e o PIB mundial estão crescendo menos como a economia doméstica pode ter expansão maior, ainda que tímida e sujeita a retrocessos.
De 2002 até hoje, o coeficiente de exportações - a porcentagem da produção destinada ao mercado externo em 47 setores industriais -, variou muito pouco e gira em torno de 10%. Já o coeficiente de importações, que mede o grau de bens vindos do exterior usados na produção, variou bastante em distintos períodos. De 2002 a 2013, a fatia de importados subiu quase sem parar e dobrou de tamanho, de 10,8% para 20,7%. Após 2013, com a depreciação cambial e a brutal recessão brasileira, manteve-se estável.
Uma desvalorização cambial de 1% diminui o coeficiente de importação em 0,6% em um ano. O crescimento doméstico tem efeito oposto - 1% a mais no PIB eleva o coeficiente em 1,6%. Explica o avanço das importações a forte apreciação cambial entre 2008-2011 e a significativa aceleração do ritmo de expansão doméstica. O crescimento mundial, retomado a partir de 2012 e a desaceleração brasileira a partir de 2013 contribuíram para ampliar, ainda que modestamente, o coeficiente de exportação. E, no que foge à lógica dos livros-texto, as exportações mostraram-se praticamente insensíveis ao câmbio - apenas 3 dos 47 setores analisados tiveram aumento de maneira "estatisticamente significativa". Uma das hipóteses é que os modelos específicos utilizados não são apropriados para captar essa influência.
O coeficiente de exportação não avançou decisivamente ao longo de uma década e meia graças à derrocada das vendas de bens manufaturados. A queda foi generalizada no mundo, mas no caso brasileiro ela foi muito mais acentuada. Em 1998, os manufaturados somavam 78% das trocas globais, participação que caiu a 66% em 2011, recuperando-se gradualmente a partir daí até atingir 74% em 2017. Os manufaturados brasileiros, que há 20 anos compunham 57% da pauta de exportação, viram sua fatia encolher 22 pontos percentuais, para 35% em 2018. O estudo do BC mostra que a China tem papel central nessa performance regressiva. Se o acentuado crescimento chinês e de seu comércio com o Brasil, basicamente de bens primários, não tivesse ocorrido, a parcela dos industrializados seria hoje 7 pontos percentuais maior, ou 42%.
Essa é uma conclusão relevante, mas não única. O Brasil perdeu espaço no mercado externo desses bens por problemas de competitividade e pelo deslocamento de seus produtos em vários mercados por concorrentes mais vigorosos. A China mostra-se não só como parceira, mas como grande rival do Brasil. Ela aumentou sua parte no mercado mundial de manufaturados de 11,1% em 2008 para 16,9% em 2017. Outros concorrentes também avançaram em uma década, como Coreia do Sul, México e Índia.
Um dos motivos aventados é que estes países têm maior inserção nas correntes de comércio e mais acordos comerciais que o Brasil. Segundo a OMC, o México participa de 13 acordos de livre comércio, a Índia, de nove, e o Brasil de apenas um. Se o Brasil pelo menos mantivesse sua participação, os manufaturados seriam hoje 40% da pauta brasileira de vendas.
A redução do ritmo de crescimento dos principais países para os quais o Brasil vende manufaturados não teve papel significativo. O estudo do BC aponta que, mesmo no cenário mais otimista, a parcela dos industrializados jamais voltaria à média de 1996 a 2008, de 56%. As causas de fundo deste comportamento, não mencionadas, são conhecidas: baixa integração comercial com o resto do mundo, tarifas altas de importação, burocracia, impostos elevados e péssima infraestrutura. Como na indústria estão os maiores centros de difusão de tecnologias e, em geral, os melhores empregos, a reação das exportações de manufaturados é essencial para alavancar a indústria, a produtividade e os salários.
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