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“Incidente lamentável” uma ova!
Entre as muitas coisas espantosas ditas este ano no Congresso por deputados, senadores ou meros visitantes está a declaração feita ontem pelo general Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa, na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados.
Ponto para o general que se apressou a dar satisfações sobre o a morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, no Rio. O carro em que Evaldo estava com a família foi alvo de 80 tiros disparados por soldados do 1º Batalhão de Infantaria Motorizado, na Vila Militar.
Em compensação, por ignorância, ingenuidade ou porque de fato acredita, o general afirmou que as milícias que hoje controlam partes do Rio surgiram com a “intenção de proteger as comunidades”. E ainda acrescentou: “Na boa intenção”.
Milícia é coisa de policial militar aposentado e de muitos ainda na ativa. Como o Estado não oferece ao cidadão segurança contra o crime organizado, é o que a milícia faz. Mas nunca o fez de maneira desinteressada e sem nada cobrar. Sempre foi um negócio, e ilegal.
Mais de 2,5 milhões de cariocas, hoje, vivem num Estado de exceção. Quer dizer: em áreas dominadas por facções criminosas e por milícias. A lei que ali existe é a lei do crime. Ora as facções e as milícias operam em conjunto. Ora lutam por espaços.
A quimera de policiais bonzinhos, inicialmente interessados em proteger as comunidades só porque o Brasil está acima de tudo e só abaixo de Deus, jamais passou de uma quimera, capaz, pelo jeito, de enganar até generais como é o caso do ministro da Defesa.
Azevedo e Silva poderia ter-se limitado a deplorar a morte do músico, a manifestar solidariedade à sua família e a prometer que os responsáveis pelo crime serão punidos. Mas, não. Para o crime reservou uma expressão branda: “lamentável incidente”.
Também o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, chamou o bárbaro assassinato de “lamentável incidente”. Tão loquaz nas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro não tocou no assunto. O governador do Rio preferiu tirar o corpo fora.
Incidente, segundo os dicionários, é algo que “incide, sobrevém; que tem caráter acessório, secundário; incidental, superveniente.” Atingir um carro com 80 tiros não é uma coisa secundária. Não tem caráter acessório. Não foi algo incidental.
Se apenas um tiro tivesse sido disparado e matado um inocente, que nome se daria a isso? Ou não dariam nome algum? Ou o ministro da Defesa sequer teria ido à Câmara se explicar? Lugar de soldado armado é na guerra ou no quartel. Nas ruas, não é.
A fraquejada do capitão
Para aprovar a reforma da Previdência vale qualquer coisa
As conversas do presidente Jair Bolsonaro com chefes de partidos, deputados e senadores avulsos são puro teatro. De nada estão servindo para a aprovação pelo Congresso da reforma da Previdência. É o que dizem os próprios interlocutores do capitão.
Primeiro porque Bolsonaro não tem paciência para conversas longas. Durante algumas delas até se mostra sonolento. Segundo porque ele não entende do assunto. Por não entender, costuma concordar com o que ouve e só. E isso não quer dizer nada.
O que pode fazer diferença para a obtenção de votos é a disposição revelada por Bolsonaro de liberar dinheiro a ser empregado em pequenas obras nos redutos eleitorais dos políticos. O que ele sempre chamou de “velha política” tomará um banho de loja.
Há uma narrativa pronta para justificar a fraquejada do capitão. A liberação de dinheiro para pequenas obras está na lei e é prevista no Orçamento. De fato é, mas os presidentes sempre a usam para premiar os dóceis e punir os que resistem ao seu assédio.
De resto, pela reforma da Previdência tão cobrada pelo mercado que ajudou a eleger Bolsonaro, vale tudo. Vale gol impedido, gol de mão e não tem árbitro eletrônico para dizer se o lance foi legal ou não. A Bolsonaro tudo será desculpado, desde que a reforma passe.
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