- Folha de S. Paulo
Numa hipótese muito otimista, seremos um país tirando o nariz para fora da lama
Cem dias de governo e já deu para entender duas coisas fundamentais sobre como serão os próximos anos. Façamos o jogo do otimista, porque o do contente está impossível. Vamos acreditar que a reforma da Previdência será aprovada, assim como o pacote anticrime, e que o MEC cessará sua sequência de cabeçadas. A economia melhora, o desemprego diminui, a violência é controlada, o número de miseráveis voltar a cair.
Ok, tudo dando certo, mas anotem: o governo Bolsonaro, até o fim do mandato, será isso aí que vivemos até agora, uma zona. Porque é o seu único jeito de tocar as coisas. Apesar de ter reconhecido (tarde demais) que não nasceu para ser presidente, Jair parece continuar sem interesse em aprender. E o problema de não saber nada de coisa alguma se reflete na inabilidade de recrutar gente que não seja só fonte inesgotável de polêmicas.
Zona total. Um presidente sem traquejo político, com total desconhecimento do que seja governar, cercado de incompetentes, de filhos deslumbrados, de ministros despreparados, de gurus aloprados e com uma base de governo que não dá apoio e, todos, com a infinita capacidade de arranjar problemas e zero talento para apontar soluções.
A segunda constatação em cem dias é que Jair continuará a dar satisfação apenas aos seus eleitores, enquanto enaltece descaradamente ditaduras passadas, estimula sua equipe a combater o marxismo cultural, arranja tretas na internet, briga com a imprensa e com seus críticos. Apesar de incompetente, ele sabe que isso funciona bem com a militância, porque não é bobo.
Numa hipótese muito otimista, seremos um país tirando o nariz para fora da lama, mesmo tendo que aguentar um governo que é uma balbúrdia. Se tudo der errado, e a chance é enorme, serão quatro anos com essa gente não só desqualificada, mas presunçosa. Portanto, renovem os estoques de antiácido e de paciência.
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