O presidente Jair Bolsonaro e os ministros mais alinhados ideologicamente a ele aceleraram seu programa de ação, contra políticas que, durante um bom tempo, receberam o aval do Congresso e da Justiça. Bolsonaro se elegeu com uma plataforma conservadora, sem, explicitá-la, com exceção de alguns planos para a área econômica. Sua eleição, porém, não lhe dá carta branca para fazer o que quiser. O aparato legal e o Legislativo tendem a constrangê-lo e daí surgirão confrontos normais em uma democracia, cujos resultados podem lhe ser bastante desfavoráveis. A ofensiva contra o ambiente, desarmamento e a educação, entre outros, põe em risco suas principais metas na economia, a começar da reforma da previdência, embora o presidente e seus acólitos acreditem que não.
Bolsonaro age como se tivesse apoio maciço no Congresso, quando a verdade é o contrário: nem seu partido sustenta integralmente suas propostas. A rejeição ao jogo parlamentar impede a formação de uma base governista firme, o que deveria torná-lo mais prudente, mas não é o que está acontecendo. O presidente, na companhia de seus filhos, tornou-se foco de instabilidade no próprio governo - não se sabe se e quando isso será revertido. As pesquisas indicam que os eleitores que lhe deram o benefício da dúvida e/ou o sufragaram para se livrar de mais uma administração petista o estão abandonando. Bolsonaro parece confundir a admiração da franja radical de seguidores nas redes sociais com a sociedade em geral. Seu estilo agressivo agrada só a seus fãs, entre os quais muitos não defendem a democracia.
Após levar a Petrobras a perder R$ 32 bilhões de seu valor, o presidente voltou suas atenções para o Banco do Brasil. Primeiro, fez o que não podia, ao pedir o cancelamento de propaganda do banco que ressaltava a diversidade e a demissão do diretor de marketing. O novo secretário da Secom, Fabio Wajngarten, que conta com a simpatia de filhos do presidente, moveu seus peões para que toda a publicidade oficial, daí para frente, incluindo a das estatais, passasse pelo crivo da Presidência. Foi lembrado pelo ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, de que isso fere a lei. O Ministério Público em seguida pediu ao TCU que avaliasse a atitude de Bolsonaro. O lembrete de Santos Cruz de que existem leis a serem cumpridas bastou para que emergisse "nova guerra" entre os protegidos de Carlos Bolsonaro e os militares.
Para agradecer os produtores rurais, na abertura do Agrishow, Bolsonaro pediu ao presidente do BB que baixe os juros para a agricultura, o que fez as ações do banco caírem por algum tempo. Fez mais, listando uma série de ações para enquadrar os órgãos ambientais a seus desejos e defendeu o "excludente de ilicitude" no caso de reação armada dos fazendeiros na defesa de suas propriedades. Para ele, a violência rural virou atributo exclusivo do MST, mas ela é provocada principalmente por grileiros de terras, madeireiras ilegais, expropriações à bala, trabalho escravo, que inexistem no mundo bicolor do presidente.
Seu filho, o senador Flavio, propôs projeto de lei que elimina a necessidade de reserva legal. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, faz uma devassa na ICMBio e no Ibama, enquanto Bolsonaro ralha contra fiscais desse órgão que inutilizaram instrumentos usados para o desmatamento ilegal. O Ministério da Agricultura, mais discreto, quer eliminar a lista de peixes ameaçados de extinção, supostamente em defesa dos pescadores.
Entre a inação de Vélez Rodríguez e o ativismo de seu substituto, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não se andou um passo à frente na resolução dos grandes e graves problemas educacionais do país. O ministro estreou com o comportamento de um bedel de escola para adolescentes travessos. Corta verbas para universidades federais que protagonizarem "balbúrdias". Weintraub e Bolsonaro concordam que o estudo de ciências humanas não merece dinheiro público ou, como disse o ministro, confirmando uma temerária estreiteza de horizontes, quem quiser estudar filosofia "que o faça com o próprio dinheiro".
Essa agenda radical prejudica o trabalho importante que a área econômica do governo tenta fazer e tende a ampliar reações contrárias no Congresso. Perdendo apoio popular, Bolsonaro verá o Congresso virar rapidamente as costas a ele e seus projetos. O radicalismo do presidente não lhe fará bem, muito menos ao país.
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