- Folha de S. Paulo
O que o humorístico tem a ver com a atual gestão
O supermercado de estimação pode dizer muito sobre uma pessoa. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, basta evocar o autorreferente Zona Sul e já imagino o sujeito torrando numa fatia de camembert 10% do que ele paga à empregada, as caixas de som tocando Bach, Carolina Ferraz na fila do presunto. De Parma, naturalmente.
Virando a esquina tem o Mundial, essa Meca do tiozão do churrasco, onde todo saldão de cerveja é uma potencial Guernica entre a clientela.
Foi lá que, dia desses, vi uma cena que tão bem resume o Zeitgeist copacabanense. Alguém derrubara Yakult no chão, um rapaz de regata do Mengão escorregou daquele jeito de dar uma sambadinha sem tombar no final, e um engraçadinho exclamou: “LactoVACILO!”. Me peguei rindo sozinha da cena horas depois, pensando em como o Mundial parece um looping de personagens cômicos, um mais bizarro do que o outro.
Dias atrás, Jair Bolsonaro encontrou espaço na agenda lotada para ir a outro humorístico à parte, a Câmara dos Deputados. “Também quero ir. Sou fã dele”, justificou e se escafedeu rumo a uma homenagem a Carlos Alberto de Nóbrega.
Faz sentido que o presidente admire tanto o comediante. Imagino Bolsonaro numa “A Praça É Nossa” particular: o mesmo banco, a mesma praça, mas no “zap” em vez de folheando arautos da fake news, tá ok?
Tal qual Vera Verão, Abraham Weintraub entraria rodopiando o guarda-chuva, gritando “eeeeepa” ao primeiro sinal de balbúrdia estudantil. Sergio Moro seria a Velha Surda, com bananas nos ouvidos para demandas que irritem o patrão.
Olavo de Carvalho encarnaria o eterno Ronald Golias, ora como seu personagem Profeta, soltando um “wualaaaaah!” a cada nova Grande Revelação Conservadora, ora com o boné pro lado do traquina Pacífico —um nome que, pensando bem, talvez não seja tão apropriado para o guru de um governo cujo primeiro semestre foi uma zorra total.
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