quinta-feira, 1 de agosto de 2019

PSDB acelera movimento para se descolar do Planalto

Após dois governadores tucanos criticarem Bolsonaro, partido demarcou ontem diferenças em relação ao presidente

Silvia Amorim / - O Globo

SÃO PAULO – A escalada de declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro acelerou no PSDB um movimento para se descolar do Palácio do Planalto. Depois de críticas públicas a Bolsonaro feitas por dois de seus três governadores — João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) —o partido se posicionou ontem, demarcando diferenças em relação ao presidente.

“Gente, fica a dica: ser contra a ditadura no Brasil não é ser de esquerda ou comunista. É apenas respeitar a história e ser absolutamente contra todas as atrocidades cometidas durante o período”, escreveu o partido em suas redes sociais.

Foi a primeira vez que a nova direção do partido, empossada em maio, usou seus perfis paras e contrapor a uma declaração do presidente.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reforçou ontem a ofensiva tucana. “O presidente despreza os limites do bom senso por sua incontinência verbal.

Contraria documentos oficiais sobre o pai do presidente da OAB e dá vazão a rompantes autoritários. Prejuízo para ele e para o Brasil: gostemos ou não foi eleito. O que diz repercute e afeta nossa credibilidade”, escreveu FH no Twitter.

LIMITE
Lideranças nacionais do partido afirmam que o período de “observação” de Bolsonaro acabou e que a legenda passará a se manifestar contra “radicalismos” do presidente. A orientação vale também para os ministros. Paulo Guedes, da Economia, foi alvo de uma nota anteontem por reiteradas críticas à social democracia, marca do PSDB.

Há algum tempo a legenda estava acompanhando posicionamentos de Bolsonaro. Mas a avaliação era que não havia algo grave o suficiente para motivar uma reação.

— A fala sobre a ditadura mostrou que as polêmicas não eram mais rompantes de um presidente em fase de acomodação, mas uma forma de governar, um gesto político. Era hora então de tomar posição — disse um dirigente tucano.
Pesou na decisão a avaliação de que Bolsonaro continuará radicalizando o discurso e que deverá ser candidato à reeleição em 2022.

O partido acredita que, para ter chance na próxima disputa presidencial, precisa se descolar do presidente, a quem muitas de suas lideranças deram apoio em 2018, e se reconectar com o eleitorado mais moderado.

Por outro lado, os posicionamentos contra Bolsonaro trazem um efeito colateral. Atingem em cheio Doria, principal nome do PSDB para a disputa presidencial. Desde que se manifestou contra o presidente anteontem, o tucano passou a ser alvo de ataques nas redes sociais de apoiadores de Bolsonaro, que o chamam de “oportunista” e “traidor”. Em 2018, Doria apoiou Bolsonaro e se elegeu com o voto “Bolsodoria”.

Os tucanos defendem que os posicionamentos em relação às polêmicas do presidente sejam “cirúrgicos”, segundo um integrante da direção será toda declaração do presidente quete rá manifestação do partido. Ofo coserá agir nost emas de maior repercussão eque retratem as diferenças de pensamento entre o PSDB e o PSL de Bolsonaro — a chamada pauta de costumes e assuntos ligados a direitos humanos.

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