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Meteu os pés pelas mãos
Por enquanto, o melhor é não convidarem para a mesma mesa o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sérgio Moro. Em sua fase mais recente, chamada jocosamente por assessores de Gabriela (“Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim…”), Bolsonaro tem se queixado do ministro com palavras duras.
Tudo a ver com o modo como Moro conduziu os desdobramentos da prisão dos hackers da República de Araraquara. Ele não poderia ter anunciado que o celular de Bolsonaro havia sido invadido, bem como pelo menos mais mil celulares, parte deles do primeiro escalão da República. Foi mal, segundo Bolsonaro.
Outra coisa: Moro errou quando se dispôs a avisar diretamente a certas pessoas que elas tinham sido alvo dos hackers. Foi como se quisesse dizer: olha, agora conheço seus segredos, mas não se preocupe, saberei preservá-los. A Polícia Federal ficou furiosa com o comportamento do ministro, mas não só ela.
Há severos protocolos dentro da Federal que foram sempre respeitados. Por exemplo: o diretor-geral só fica sabendo de uma operação em cima da hora para reduzir as chances de vazamento de informações. Ele só avisa ao ministro quando a operação já está em curso. Cabe ao ministro se quiser avisar ao presidente.
Como Moro teve acesso a informações de um inquérito que continua sob segredo de justiça? Quem foi o culpado? A Polícia Federal quer saber e está apurando. O ministro acabou expondo o presidente a críticas desnecessárias. E ele não gostou nem um pouco disso.
Deltan, alvo da bala de prata
A fúria da toga
A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal está disposta a passar a mão na cabeça de Sérgio Moro, fingindo não ver que à frente da Lava Jato em Curitiba ele se comportou como juiz e ao mesmo tempo assistente de acusação no processo do triplex que condenou o ex-presidente Lula.
Para compensar, reagirá com indignação ao modo como procedeu o procurador Deltan Dallagnol, segundo a nova fornada de mensagens trocadas por ele com colegas e hoje divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo. A certa atura da Lava Jato, Dallagnol quis investigar os ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes e suas respectivas mulheres.
Toffoli porque em 2016 começava a ser visto pelos procuradores como um inimigo da Lava Jato. Gilmar por sempre ter sido visto como o maior inimigo. Deltan fez mais. Tentou barrar a indicação para o Supremo do então ministro do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins. Nada disso poderia ter feito, segundo a lei.
A sessão do Supremo marcada para logo mais às 14 horas servirá para que os ministros se solidarizem com Toffoli e Gilmar e cobrem publicamente ao Ministério Púbico Federal algum tipo de punição a Deltan. Por isso mesmo não deverá ficar.
Operação para salvar o presidente do Paraguai
Bolsonaro e Trump, afinados
A escalada da crise que ameaça o mandato do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítes, acusado pela oposição de ter fechado com o Brasil um acordo que fere os interesses do seu país, provocou uma ação conjunta dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump.
Bolsonaro admitiu rever o acordo que levaria o Paraguai a pagar mais caro pela energia produzida pela hidroelétrica de Itaipu. O embaixador americano em Assunção, ontem à noite, soltou uma nota onde cobra do Congresso paraguaio o “estrito respeito à lei”.
Benítes é considerado um aliado pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos. O acordo considerado lesivo ao Paraguai foi assinado em maio último, mas só agora revelado. Poderia beneficiar uma empresa brasileira ligada à família de Bolsonaro.
O Senado paraguaio recusou-se a aprovar o acordo. Benítez demitiu quatro autoridades que se envolveram nas negociações – entre elas o ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni. E segue disposto a resistir às pressões para que renuncie ao cargo.
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