sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Fábio Fabrini - Crise conjugal

- Folha de S. Paulo

Faz oito meses que Davi Alcolumbre (DEM-AP) derrotou Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela Presidência do Senado. Surfou no apoio recebido do Planalto e de colegas eleitos na onda bolsonarista.

De lá para cá, o que se deu foi um jogo de trocas favoráveis às partes, mas elas agora estão em crise.

Davi se aliou à velha guarda do MDB, partido que tradicionalmente comandava a Casa, e buscou formar uma bancada para dar sustentação às pautas do governo Bolsonaro, inclusive as mais absurdas.

Tem sido ele um dos principais articuladores da candidatura nepotista de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o 03, à Embaixada do Brasil nos EUA.

Como em Brasília não há almoço grátis, o Planalto retribuiu à moda da velha política: cedeu cargos no Cade para Davi negociar com os pares.

Quando entra setembro, um novo senador se apresenta, postando-se contra os interesses do governo, especialmente aqueles que contrariam o corporativismo do Congresso.

É um outro homem, que agora critica o presidente por governar contra o presidencialismo de coalizão, apanha dos colegas bolsonaristas e até recebe elogios de Renan.

Num dia, pedalou a votação da reforma da Previdência, prioridade do Executivo, para barganhar emendas.

Noutro, liderou sessão que derrubou 18 vetos do presidente ao projeto que estabelece punições por suposto abuso de autoridade de juízes e promotores. Um texto forjado para blindar a classe política de investigações sobre seus malfeitos.

Davi também atrasou a tramitação de proposta que muda as regras da TV paga e libera, no Brasil, a compra da Warner Media pela gigante de telefonia AT&T --uma encomenda feita a Bolsonaro por seu amo, Donald Trump.

A política se move, mas estão postas indicações de que o presidente não tem mais no Senado um despachante, o que pode custar prejuízos aos seus propósitos, entre eles o de emplacar em Washington embaixador com currículo de lanchonete e inglês de nível intermediário 1.

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