- Folha de S. Paulo
Desânimo não é tão grande quanto em meados do ano, mas está em níveis ruins de 2018
Este 2019 pode terminar sem choque político doméstico relevante para a economia, inédito desde 2013. A perturbação maior vem do ruído de fundo ou da algazarra contínua de Jair Bolsonaro e trupe.
Ainda do ponto de vista de negócios e dinheiro, uma incerteza preocupante é a durabilidade desse improviso de “parlamentarismo branco”, que estabiliza de modo precário um sistema político em que o governo não tem política parlamentar organizada.
Mesmo sem choques, a confiança dos empresários anda baixa, menor que no final do ano passado ou no começo deste. A exceção é a construção civil, um tanto mais feliz por ter saído das profundas mais fundas do inferno da recessão.
Nas medidas da FGV Ibre, a confiança na indústria é a menor do ano, na média trimestral. A recuperação das fábricas fica para o ano que vem. No comércio, a confiança cresce em relação ao segundo trimestre ruim, mas é menor que no final de 2018 e no começo de 2019.
Como já se disse por aí e por aqui, a animação com um novo presidente se dissipou rapidamente e foi ao fundo em meados do ano, quando havia cheiro de recaída de recessão no ar. Neste terceiro trimestre, a confiança voltou para níveis apenas conformados.
Não há choques, mas não há notícias animadoras de vulto e a desconfiança no presidente cresce, ainda que gradualmente. Até aqui, se houve contaminação da economia pelo sururu político, a responsabilidade é de Jair Bolsonaro. A esperança do momento é que os juros baixos sacudam essa poeira. E só.
Para lembrar o que foram os choques: em 2013, houve o Junho. Em 2014, a eleição odienta e a Lava Jato. Em 2015, o estelionato eleitoral e o começo da campanha de deposição de Dilma Rousseff. Em 2016, o impeachment. Em 2017, o caso Joesley-Temer, que derrubou a Ponte para o Futuro e colocou o país a discutir a queda de outro presidente. Em 2018, houve o caminhonaço ruinoso, promovido por adeptos de Bolsonaro, Lula preso e a eleição tumultuada.
A notícia econômica maior deste ano foi a aprovação da reforma da Previdência, se não a única. Desde então, desde julho, passam até projetos muito importantes (lei de telecomunicações, por exemplo, dos tempos de Temer), mas nada que anime as ruas ou inspire confiança na continuidade de mudanças.
Além do caso da Previdência, um projeto de consenso da elite tocado pelo “parlamentarismo branco”, o governo Bolsonaro não apresentou plano algum com começo, meio e fim, que dirá medidas de apelo popular. Solta apenas balões de ensaio com esquisitices ou programas mal explicados.
No sentido banal da palavra, não há confiança de que Bolsonaro e trupe vão se comportar, que não vão meter os pés pelas mãos ou um tiro na testa, para nem falar do passivo de rachadinhas e amizades milicianas da primeira família. Tais rolos têm sido abafados e o povo do dinheiro grosso faz cara de paisagem, mas que eles existem, existem.
Não há garantia de que o arranjo precário no Congresso possa permanecer por muito mais tempo. Nesse esquema improvisado, os parlamentares dariam vitórias contínuas para Bolsonaro a troco de nada? Não se trata bem de “nada”, pois há negócios no varejo político, mas é troco. Os nativos estão inquietos e ainda mais ficarão com a proximidade da eleição de 2020.
Além de animar a extrema-direita e de cuidar dos filhos, Bolsonaro está sem rumo. Além do circo e da filhocracia, há uma sensação de vazio no ar.
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