- O Globo
Jair Bolsonaro parece mais inquieto com a próxima reunião da ONU, em Nova York, do que com a sua quarta cirurgia no abdômen no próximo domingo, em São Paulo. “Eu vou, nem que seja de cadeira de rodas, de maca”, disse ontem, “porque eu quero falar sobre a Amazônia”.
Será mais do mesmo, se insistir na retórica radical que manipula em fuga da realidade. Melhor faria se mobilizasse governos e Congresso num projeto consistente para a região.
Exigiria trabalho, o que é diferente da venda de ilusões sobre a refundação da República em tuítes para convertidos. Implicaria num choque com a realidade, por exemplo, das empresas que preferem lucrar sob regras ambientais claras e estáveis ao caos da paisagem calcinada, instável para investimentos de longo prazo, como na mineração.
Bolsonaro, talvez, ficasse surpreso com os anúncios dos últimos dias feitos por transnacionais do comércio, indústria, agricultura e finanças, exorcizando suspeitas de cumplicidade com o desmate amazônico.
Entre outras, se destacaram Bunge, Cargill e Archer Daniels Midland (grãos); o conglomerado Nestlé; indústrias de óleo vegetal vinculadas à Abiove, Mowi (salmão), Yara (fertilizantes), VFC (confecções), Tradelink (madeira), Norsk Hydro (alumínio) e Equinor (petróleo).
A autodefesa avança no mercado financeiro. Fundos como Storebrand e KLP, com US$ 170 bilhões em ativos, revisam negócios de soja, óleo de palma e madeira no Centro-Oeste e na Amazônia. O KLP já vetara investimentos na Vale por causa dos acidentes em Mariana e Brumadinho. Agora, foca nas operações de comercializadoras de grãos como Bunge e Archer Daniels Midland, nas quais investiu US$ 50 milhões.
Já o banco Nordea, com US$ 700 bilhões em ativos, foi além: suspendeu suas aplicações em títulos do governo brasileiro. Viu ameaças ao acordo Mercosul-União Europeia e risco de boicotes a produtos agrícolas do Brasil. O custo Bolsonaro aumenta. E isso é ruim para os negócios.
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