Por Malu Delgado | Valor Econômico
SÃO PAULO - Representantes de 16 partidos declararam ontem apoio ao movimento "Direitos Já", uma frente suprapartidária e com representantes da sociedade civil criada em defesa do Estado Democrático de Direito. Lideranças nacionais do PT e PSDB, no entanto, não compareceram ao evento, por divergências internas, apesar de integrantes dos dois partidos terem aderido ao movimento. Alas do PT, por exemplo, boicotaram abertamente o evento alegando que o partido estaria à reboque de forças de direita. Num efeito surpresa, o filósofo e ativista político Noam Chomsky apareceu como convidado de honra.
Chomsky fez uma análise do cenário internacional, dando ênfase a ataques a democracias consolidadas, como no Reino Unido, com o Brexit, e nos Estados Unidos, com a Presidência de Donald Trump. Segundo Chomsky, infelizmente o Brasil passa a sentir familiaridade com ataques às instituições democráticas com a Presidência de Jair Bolsonaro. Apesar de "fragilidades democráticas" em países como Turquia e Hungria, ele alertou que o ataque a democracias consolidadas como o que ocorre nos EUA e na Inglaterra é ainda mais alarmante.
Entre ex-candidatos à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT) e Eduardo Jorge (PV) marcaram presença. Ciro foi saudado com gritos da plateia quando começou a discursar. Ciro criticou a inconsequência das elites, que ameaça sistemas democráticos. A ex-candidata Marina Silva (Rede) era aguardada, mas não compareceu. O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que tem sido visto como um possível nome para a disputa em 2022, também compareceu.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) gravou vídeo no qual afirma ser necessário que "nos juntemos" para manter as regras da Constituição. Pelo PT, o orador foi o vereador Eduardo Suplicy. Discursaram políticos do PSB, Solidariedade, PL, Podemos, Novo, PV, Cidadania e PDT. O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, também aderiu, em mensagem por vídeo e disse que as instituições democráticas estão ameaçadas. "Estávamos anestesiados com tanta barbaridade. E isso acaba aqui e agora", afirmou a ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, que já foi do PT e do MDB, mas se desfiliou e anunciou a retirada da vida pública.
O organizador do movimento, Fernando Guimarães, esclareceu que o Direitos Já não é uma "frente com projeto político" e nem um movimento "contra ninguém". "É um chamado da democracia brasileira, uma iniciativa que surgiu da forma mais informal possível, no dia seguinte à eleição do ano passado, quando percebemos o momento de aflição com a agenda anticivilizatória do presidente eleito, que era afirmada e reafirmada", disse. O sociólogo cobrou o comprometimento de lideranças políticas com responsabilidade história. Guimarães citou o apoio de petistas, como Fernando Haddad e Aloizio Mercadante, ao movimento Direitos Já, e de tucanos, como o ex-governador Geraldo Alckmin, que não pode comparecer.
O lançamento do Direitos Já ocorreu no Tuca, Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Tuca), historicamente considerado uma arena de movimentos progressistas. Pelo formato e pelo nome, a frente lançada tenta reviver momentos históricos do país em defesa da democracia durante o movimento Diretas Já, de 1985, em que o país lutava para o restabelecimento de eleições diretas e livres após o período da ditadura militar.
Dom Claudio Hummes, arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo e Presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da CNBB, fez uma exposição inicial em nome de diferentes movimentos religiosos que apoiam o movimento. "Somente sociedade organizada é capaz de pressionar, pacificamente, o poder que está aí dominando e orientando o Brasil", disse. Dom Claudio falou sobre o drama da Amazônia e ressaltou a necessidade de defesa de direitos dos povos originários.
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