Montagem com o presidente como rei da selva sendo atacado por hienas com nomes de STF, ONU e partidos é apagado após repercussão negativa
Mateus Vargas | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – Um leão encurralado e prestes a ser atacado por hienas. Foi assim que o presidente Jair Bolsonaro apareceu nesta segunda-feira, 28, em um vídeo postado em suas redes sociais, compartilhado por ele e apagado aproximadamente duas horas depois, após muita polêmica. Na lista das hienas que correm saltitantes na savana, atrás do leão Bolsonaro, estão o Supremo Tribunal Federal (STF), a Organização das Nações Unidas (ONU), o seu partido PSL e siglas de oposição – entre as quais o PT e o PC do B –, além da imprensa.
No filme, o rei da selva alia-se a outro leão, chamado “conservador patriota”, parte para o contra-ataque e vence seus inimigos. No meio da briga selvagem, chega a dar sinais de derrota, mas resiste e até abocanha o adversário “Lei Rouanet”.
Com forte rugido, a dupla bota as hienas para correr. “Vamos apoiar o nosso presidente até o fim. E não atacá-lo. Já tem a oposição para fazer isso!”, dizem os letreiros sobrepostos às imagens da fuga.
Os leões celebram a vitória esfregando as jubas. A montagem se encerra com a transição de imagens da bandeira do Brasil para a de Bolsonaro de braços abertos. A trilha sonora épica dá espaço a uma gravação do presidente repetindo o seu lema de campanha: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Feita sobre um vídeo real de uma disputa de leões e hienas, a montagem foi apagada do perfil do presidente depois de forte repercussão negativa.
A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) informou que não participou da postagem e não comentará a publicação. Bolsonaro está em Riad, na Arábia Saudita, onde cumpre agenda de viagens pela Ásia e Oriente Médio.
“Carluxo”
Nos bastidores, a autoria do polêmico vídeo foi atribuída ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho “zero dois” do presidente, que gerencia as publicações do perfil do presidente nas redes sociais. Na prática, a repercussão pôs “Conservador patritota” e “Carluxo” – apelido de Carlos -- entre os assuntos mais comentados no Twitter.
No último dia 17, o vereador chegou a se desculpar por comentário na conta do pai sobre julgamento que pode mudar entendimento do Supremo a respeito da prisão após condenação em segunda instância.
“Eu escrevi o tweet sobre segunda instância sem autorização do presidente. Me desculpem! A intenção jamais foi atacar ninguém! Apenas expor o que acontece na Casa Legislativa!”, justificou Carlos.
O vídeo também esquentou a crise no PSL. Ex-líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (SP) rebateu a produção, questionando se a ideia era dispensar votos e ajuda do “maior partido da base e que mais ajudou o governo”. “Deus limitou só a inteligência. A burrice é ilimitada”, disse ela no Twitter.
Bibo Nunes (PSL-RS), por sua vez, saiu em defesa de Bolsonaro. Na sua avaliação, a peça era obra de “algum militante” em apoio ao presidente. “Em viagem de negócios pelo mundo, (Bolsonaro) não estaria se ocupando com vídeos. Por favor!!!”, escreveu Nunes.
Crise vizinha
Além de citar os confrontos domésticos, o vídeo do “leão Bolsonaro” também fez referência à instabilidade política na América Latina. “Chile, Argentina, Bolívia, Peru e Equador. Mais que a vida, a nossa LIBERDADE. Brasil acima de tudo! Deus acima de todos”, dizia uma inscrição que aparecia ali. Os países listados tiveram recentemente eleições e protestos.
A Argentina elegeu para a Casa Rosada, no domingo, o peronista Alberto Fernández. Aliado de Bolsonaro, Mauricio Macri foi derrotado no primeiro turno. O presidente brasileiro lamentou o resultado e disse que não irá cumprimentar a chapa vencedora.
Auxiliares de Bolsonaro têm dito nas redes sociais que há movimento orquestrado de partidos de esquerda para desestabilizar governos vizinhos do Brasil. Bolsonaro também ficou incomodado com uma imagem publicada por Fernández, horas antes do resultado, em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso desde o ano passado, no âmbito da Operação Lava Jato. “O primeiro ato do Fernández foi ‘Lula livre’, dizendo que está preso injustamente. Já disse a que veio”, declarou Bolsonaro.
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