- Valor Econômico
Crise no PSL amplia lista de ressentidos com Bolsonaro
Na cúpula do PSL, o coração dos aliados do presidente Luciano Bivar é um pote até aqui de mágoa com o presidente Jair Bolsonaro. “Ele já passou por oito partidos, pergunte de qual deles ele cobrou transparência”, provoca um deputado bivarista sobre a exigência do principal correligionário de clareza na contabilidade partidária.
“Não acredito em convergência”, sentenciou outro bivarista, embora Bolsonaro tenha mencionado “porventura um acordo” com o PSL em declaração durante a visita aos Emirados Árabes.
Ontem a postagem de um vídeo no perfil oficial de Bolsonaro no Twitter voltou a cutucar a onça e colocar em dúvida uma chance de entendimento. O vídeo comparava o presidente a um leão cercado por hienas: uma delas seria o PSL. A postagem depois foi apagada, mas animou a deputada Joice Hasselmann, alijada por Bolsonaro da liderança do governo, a reagir com agressividade: “a burrice é ilimitada”, escreveu.
Com os processos de destituição de Eduardo Bolsonaro da presidência do diretório paulista e de expulsão de deputados bolsonaristas em tramitação na Comissão de Ética, os principais atores da briga no PSL se entricheiraram para aguardar o próximo tiro.
Essa munição provavelmente virá da CPMI das Fake News, de onde o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), expulso do PSL após embate com Bolsonaro, promete disparar bala de fuzil contra o presidente. Ele adiantou a alguns integrantes do colegiado que tem áudios e documentos inéditos que comprovariam um esquema de “milícia digital” ligada a Bolsonaro.
Os bivaristas traçam um roteiro a partir de janeiro de 2018, quando Bolsonaro e seu grupo ingressaram no PSL, para tentar compreender a escalada da crise com o presidente. Uma avaliação interna admite a gravidade do escândalo das candidaturas laranjas em Minas Gerais, mas rechaça irregularidades em Pernambuco, reduto político de Bivar.
Todos os pleitos do então pré-candidato teriam sido atendidos, desde a cessão do comando da legenda ao advogado e então aliado Gustavo Bebianno durante a campanha até a indicação dos dirigentes das comissões executivas estaduais. O primeiro ato de Bebianno teria sido a encomenda de uma auditoria nas contas partidárias.
Ninguém acreditava na eleição de Bolsonaro. Em meados de 2018, a expectativa no PSL era eleger uma bancada de 25 a 30 deputados. Ao fim, o partido elegeu na “onda Bolsonaro” 53 deputados, três governadores, quatro senadores e o presidente da República.
Até hoje os indicados de Bolsonaro controlam as comissões provisórias nos estados. Metade desses aliados, entretanto, formam o bloco dos ressentidos. Como Bolsonaro só procurou a maioria deles para cobrar a assinatura na lista de apoio a Eduardo para a liderança da bancada, esses dissidentes alinharam-se a Bivar, inclusive para assegurar os recursos do diretório estadual para as eleições municipais.
No início de 2018, Bolsonaro indicou todos os dirigentes das executivas estaduais, com exceção de Pernambuco (base eleitoral de Bivar) e do Maranhão, único diretório eleito da sigla. Em todos os demais 24 estados e no Distrito Federal, bolsonaristas assumiram o controle regional do partido: a maioria elegeu-se deputado federal.
Esse cenário mantém-se, por exemplo, no Distrito Federal, cuja executiva é controlada pela deputada Bia Kicis; no Rio Grande do Norte, onde o General Girão é o vice-presidente do diretório; em Roraima, onde o vice-presidente é o deputado Nicoletti; e em Santa Catarina, onde os deputados Fabio Schiochet e Caroline de Toni são presidente e vice-presidente do diretório, respectivamente. Se esse grupo de bolsonaristas não se entender com Bivar, devem ser afastados dos cargos.
Em contrapartida, é expressivo o time de dissidentes de Bolsonaro que tende a permanecer no controle dos diretórios estaduais se Bivar mantiver o controle do partido. O exemplo mais notório é o ex-líder da bancada Delegado Waldir, presidente do diretório do PSL em Goiás. O mesmo ocorre com o deputado Julian Lemos, presidente do diretório da Paraíba, com a deputada Dayane Pimentel, que comanda o diretório da Bahia, com o deputado estadual Fernando Franceschini, presidente do diretório do Paraná e com o ex-deputado Carlos Mannato, que foi desligado da assessoria especial da Casa Civil e é presidente do diretório do Espírito Santo. Se o cenário não mudar, esse grupo manterá a chave do cofre para as eleições do ano que vem.
Bolsonaro é retratado pelos bivaristas como um político “humilde” nas negociações para se filiar ao PSL e mesmo durante a campanha eleitoral. Depois da vitória, veio a fase da euforia. Mas depois da posse, a fase que perdura ate hoje é descrita como a da “depressão”, em que o presidente se afastou dos primeiros aliados e estaria marchando para o isolamento.
“Ele próprio atira nos seus soldados, e pelas costas”, declarou o ex-ministro Gustavo Bebianno seis meses depois de ser demitido da Secretaria-Geral da Presidência após embate público com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC).
Outro aliado abandonado na estrada, o deputado Julian Lemos era tão próximo de Bolsonaro que integrou o time de cinco titulares da comissão pré-eleitoral do PSL, ao lado do candidato, de Eduardo, Bebianno e Waldir Luiz Ferraz, um ex-assessor parlamentar que nunca foi chamado para o governo.
Este bivarista lembra que se assustou ao ver o ex-senador Magno Malta não ser recebido por Bolsonaro dias após a eleição. O político capixaba chegou a ser cotado para a vaga de vice mas depois nunca mais conseguiu se aproximar do presidente. O vice-presidente Hamilton Mourão referiu-se a ele como um “elefante que está colocado no meio da sala”.
Malta e Bebianno encabeçam uma lista de aliados abandonados pelo caminho que não cessa de crescer. Depois vieram o ex-ministro da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, o deputado estadual Fernando Franceschini, os deputados Julian Lemos, Alexandre Frota e Joice Hasselmann. Qualquer hora, qualquer desatenção, um nome a mais poderá ser a gota d’água.
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