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Desrespeito às instituições
O que lhe vem à cabeça quando ouve falar de hienas? O som que emitem e que parece uma risada tétrica? A feiura e o tamanho da cabeça desproporcional ao corpo? Os dentes sempre à mostra? A ferocidade e o costume de atacar em bandos quase sempre à noite? O caráter dissimulado, traiçoeiro? O apetite por comida podre, de preferência roubada a outros animais?
Como você reagiria se fosse comparado a uma hiena? Em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro postou um vídeo que mostra um leão cercado por hienas. O leão é ele. Cada hiena carrega um selo na cabeça: Supremo Tribunal Federal, Ordem dos Advogados do Brasil, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, PT, PSDB, PSL, TV Globo, Folha de S. Paulo, VEJA.
Atacado, exausto, o leão acaba salvo por outro que entra em cena com o nome de “Conservador e Patriota”. Os dois leões confraternizam. A imagem deles cede a vez à imagem da bandeira brasileira. E do centro da bandeira emerge uma foto do presidente Jair Bolsonaro. Diminui o fundo musical para que se ouça a voz de Bolsonaro dizendo: “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”.
Com menos de duas horas no ar, o vídeo foi acessado na conta de Bolsonaro pelo menos 1,2 milhão de vezes. Até que foi apagado. Fontes do governo informaram que Bolsonaro mandou apagar. E insinuaram que o vídeo havia sido postado por Carlos, o Zero Três, que tem acesso às senhas do pai. Bolsonaro não manda nos filhos. Mas quer que se acredite que sabe mandar no país.
Pai e filho já se valeram do truque em outras ocasiões. Um finge que fez algo à revelia do outro. A depender da repercussão, o outro diz que mandou apagar. Por vezes, sob pressão dos ofendidos, é o pai que manda que o filho apague. Por vezes, é do filho a inciativa de apagar porque o objetivo foi alcançado. No caso do vídeo dos leões e das hienas, os objetivos foram pelo menos dois.
Primeiro, açular os bolsonaristas para que defendam um presidente cercado de inimigos e sob ataque. Segundo, distrair a atenção do país no momento em que são revelados áudios de Fabrício Queiroz, amigo há mais de 40 anos de Bolsonaro, sócio da família no esquema das rachadinhas. Mais um áudio foi conhecido ontem. Nele, Queiroz debocha do Ministério Público Federal
Para não dar gosto a Bolsonaro e ao filho vereador, as instituições identificadas como hienas preferiram calar-se. Mas o integrante de uma delas, o ministro Celso de Mello, não se conteve e reagiu à altura. Soltou uma nota onde disse que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um Chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções”.
A irritação do ministro com o presidente da República vem num crescendo. Antes da eleição de Bolsonaro, Celso de Mello cogitou aposentar-se este ano, embora só fosse obrigado a fazê-lo no próximo ao completar 75 anos. Depois que Bolsonaro tomou posse, Celso de Melo desistiu da ideia. Resistirá no cargo até o fim. E, quando necessário, atirando.
Teoria da conspiração
O que Queiroz quis dizer?
Em um dos áudios vazados por Fabrício Queiroz – ou que vazaram à revelia dele -, o amigo do presidente Jair Bolsonaro, ex-assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, queixa-se, a certa altura, de estar abandonado enquanto que “o outro está hiperprotegido”.
Segundo o jornal O Globo, “o outro” é Adélio Bispo, autor da facada em Bolsonaro em 6 de setembro do ano passado, em Juiz de Fora. Trancado na penitenciária de Campo Grande, diagnosticado com transtorno mental, Bispo se recusa a ser medicado.
Políticos de imaginação fértil, favorecidos pelo ambiente conspiratório de Brasília, se indagavam, ontem, na Câmara: o que Queiroz tem a ver com Bispo? Queiroz está solto, Bispo preso. Por que reivindica a mesma hiperproteção dada a um notório criminoso?
A não ser… Deixa pra lá.
Toffoli preparo o enterro da prisão em segunda instância
Ou não, nunca se sabe...
A 10 dias da retomada do julgamento sobre a prisão em segunda instância, Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, enviou à Câmara dos Deputados e ao Senado uma proposta para impedir a prescrição de crimes.
Sugeriu que fosse incluído no artigo 116 do Código Penal trecho que impede a prescrição de crimes enquanto não forem julgados recursos especiais ou extraordinários. Com isso, ele pavimenta o caminho para votar pelo fim da prisão em segunda instância.
Os ministros favoráveis à prisão em segunda instância argumentam que sua eventual revogação provocará a prescrição de crimes cometidos por quem dispõe de muito dinheiro para contratar bons advogados. E que isso seria injusto.
O julgamento foi suspenso na semana passada com o placar de 4 a 3 a favor da manutenção da prisão em segunda instância. Se votarem como prometem os demais ministros, o placar será de 5 a 5. Caberá a Toffoli o voto de desempate.
Em quatro ocasiões anteriores, Toffoli já votou sobre o mesmo assunto – uma vez a favor da prisão em segunda instância, três vezes contra. A tendência é que novamente vote contra. A conferir.
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