- Folha de S. Paulo
Há brotos verdes, mas ritmo anual de crescimento ainda é o menor desde 2017
A economia cresceu 1% nos últimos quatro trimestres —no último ano, pois. É o ritmo mais lento desde o terceiro trimestre de 2017, quando o país acabava de sair da recessão.
Mas, a julgar pela comemoração da torcida oficial, oficialista ou oficiosa, parece que o PIB divulgado nesta terça-feira (3) teria começado a crescer em desabalada carreira, como diziam jornais de antigamente. Só que não.
Sim, há pequenas notícias positivas. O crescimento de trimestre para trimestre melhorou desde abril, quando se temia uma recaída na recessão. Mantida a mesma toada do segundo e terceiro trimestres deste 2019, o PIB terá crescido 2,2% ao final de 2020.
Ainda será uma pobreza, mas de longe o melhor resultado desde 2014. Quanto a 2019, o crescimento deve ser ainda um tico menor do que o de 2018, menos de 1,3%, afora milagres. De qualquer modo, este trimestre final do ano deve ser melhor.
É possível contar com o efeito da liberação do dinheiro do FGTS, de outros caraminguás e com a liberação de alguns gastos represados pelo governo. A redução das taxas de juros deve fazer alguma diferença mais notável.
O jornalista também torce por resultados melhores, tanto faz se o governo seja de Deus ou do Diabo nesta terra agora sem sol e sem luzes.
Tem um filhinho para criar, há tantos desempregados quanto habitantes da cidade de São Paulo, outros tantos subempregados e um monte de gente se arriscando de moto ou bicicleta pelo trânsito, trabalhando alucinadamente 15 horas por dia, entregando comida e outras coisas, a fim de ganhar uns trocados.
A miséria cresce, há gente com fome de doer, catando o que comer no lixo ou desmaiada na imundície das calçadas. Isto posto, não dá para aceitar “comemorações” e “resultados positivos” porque o crescimento do trimestre foi de 0,6% e não de 0,4%, como previsto pela média dos “analistas de mercado”, entre outras ninharias decimais.
Há quem diga ainda que o “crescimento agora é saudável” com “investimento privado” (ainda uma merreca), não de despesa pública. Mas o investimento cresce apenas 3% ao ano, um quase nada de despesa em novas construções residenciais e de instalações produtivas, em máquinas e equipamentos.
A parcela do investimento (“formação bruta de capital fixo”) ainda é de apenas 16,3% do PIB (o recorde recente foi de 21,5% do PIB, em 2013). Note-se de passagem que criticar investimento público incompetente, irresponsável, insustentável e ineficiente, quando não corrupto é uma coisa.
Fazer festinha para a míngua da despesa do governo em obras e equipamentos essenciais é mercadismo vulgar ou sem-vergonhice, mesmo.
A construção civil melhora? Sim, depois de afundar uns 30% desde a recessão, graças ao setor imobiliário, de São Paulo em particular, mas está a muitos anos de sair do buraco profundo dos infernos.
A indústria de transformação (“fábricas”), porém, está praticamente em recessão, em parte por causa da economia mundial lerda, do colapso argentino e por doença crônica ou terminal desde 2010, pelo menos.
Foi a indústria extrativa que deu um salto extraordinário no trimestre, que não deve se repetir, por causa recuperação da mineração de ferro e da retomada do setor de petróleo.
No mais, estamos comemorando misérias: que não caímos da estagnação para a recessão. Estamos nos animando com melhorias que, no ritmo previsto, apenas em 2024 vão levar a renda (PIB) per capita de volta ao nível em que estava em 2013.
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